quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dos Preconceitos Contra o Ensino de Arte: Reflexos negativos do passado.


(Representação de pintura rupestre em Chapada Diamantina por alunos do 1º ano do Ensino Médio)
Por Jailton Jack

Arte na educação não é mero exercício escolar” Ana Mae Barbosa
A intenção desta discussão é gerar reflexão, cognição e a busca da resposta para as visões e perguntas mais frequentes sobre a disciplina de Arte em se tratando de sua finalidade e importância na educação escolar, mais precisamente quando um aluno pergunta: “Pra que estudar arte? A gente vai desenhar ou pintar hoje?
Em meados do século XIX, por volta do ano de 1854 o ensino de arte resumia-se a uma simples atividade escolar. Os gestores e professores das escolas tradicionais consideravam o trabalho em arte como o momento do lazer, o momento do “recreio”, tempo em que os professores responsáveis por determinadas turmas acompanhavam os alunos com noções de música, canto, desenho e trabalhos manuais sem interferir no trabalho dos alunos, sem dar se quer nenhum ponto de partida com a explicação
técnica dos materiais, ou mesmo a explicação de qual seria o objetivo do exercício, ou seja, a intenção era que os alunos se expressassem livremente, sendo que desta forma a produção em arte se tornava vazia e sem nenhuma proposta significativa. Anos depois, no início do século XX, configuram-se na estrutura curricular das escolas primárias e secundárias as disciplinas de Desenho, Atividades Manuais e Música e Canto Orfeônico, passando a ter política educacional e ganhando participação na estrutura curricular, porem conduzida por professores sem formação adequada ou então por artistas sem nenhuma formação acadêmica e noções didáticas, por haver pouquíssimas instituições superiores com cursos da área até a década de 60. A prática pedagógica em Arte se baseava em modelos de culturas dominantes, cópias e reproduções de trabalhos artísticos que eram considerados belo. Visão fragmentada que privilegiava tão somente a estética dos trabalhos, ou seja, o olhar para o “belo” da época, acarretando assim uma produção utilitarista e imediatista em arte, também nas produções de desenho que simplesmente não entrava como experiência artística por ser aplicado o desenho geométrico de forma crua e cruel.  As atividades relacionadas ao teatro e dança não eram obrigatórias, somente eram aplicadas com fins direcionados a festividades escolares em períodos de datas comemorativas, de forma  mecânica os alunos decoravam os textos, as formas de dicção e representavam. Nas danças simplesmente reproduziam as coreografias fixas para serem contemplados pela plateia. Um período depois foram reformulando as propostas pedagógicas para o ensino de arte e surgiram as disciplinas de Desenho, Desenho Geométrico, Artes Plásticas, Música e Arte Dramática, desta vez delimitando de forma mais específica o ensino das linguagens artísticas. Em 1971 arte é incluída no currículo escolar com o título de “Educação Artística” pela LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mas não considerada como disciplina e sim “atividade educativa”, sendo assim as instituições de ensino superior passou a implantar a formação docente na área de Educação Artística, sendo que esta formação era um tanto que fragmentada por ser baseada em técnicas e sem bases conceituais, somente para cobrir o mercado aberto pela lei. O professor recém-formado tinha que exercer a função ministrando as diversas linguagens artísticas, resultado: Fragmentação de conhecimento, infrutiferação e falta de preparo para ensinar arte.
Por consequência das grandes lacunas no processo ensino-aprendizagem em arte, surge nos anos 80 um movimento criado pelos professores da área chamado “arte-educação” com a intenção inicial de integrar e aprimorar a formação docente dos professores de arte, e a partir daí foram surgindo encontros, debates e discussões sobre a formação adequada, a valorização dos professores e mudanças de concepções em ensinar arte. Depois de muitas discussões e reivindicação de educadores referente à LDB que tira a obrigatoriedade do ensino de arte no Ensino Básico, surge em 20 de dezembro de 1996 a nova LDB que sanciona a obrigatoriedade do ensino de Arte no Ensino Básico, a ser considerada como disciplina e designada como Arte e não mais “Educação Artística.”
 “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (Lei no 9.394/96,artigo 26, parágrafo 2 ).
Este histórico do ensino de Arte é peça fundamental para esta discussão, sem esta correlação jamais saberíamos por que ainda hoje nos deparamos com os preconceitos contra o seu ensino, agora sim entendemos o porquê das “piadinhas” de que ensinar arte é ensinar qual quer coisa, o porquê até hoje os gestores escolares enxergam os arte-educadores como meros decoradores de escolas em tempos festivos, de tal forma pode-se associar ao marco negativo do passado do ensino de arte, alias melhor dizendo, do ensino vago, vazio e infrutífero da década de 60. Razões não faltam para desanimar, determinadas situações que vivemos em sala de aula muitas vezes nos perguntam por que precisamos fazer com que as pessoas e principalmente os alunos conheçam arte, já que suas mentes parecem estar fechadas para tanto? Numa aula prática, as coisas ocorrem muito bem, mas quando se trata de falar sobre História da Arte, os questionamentos veem a tona: “Professor isso é História!, Artes no ano passado era apenas pintar e desenhar... Prova de Artes????...” Situações como estas são bem comuns depois de já ter uma vaga experiência em sala de aula, por que nos estágios, nos primeiros contatos com os alunos não dar pra sentir tanto o tamanho do problema, pois receber uma dessas depois de se preparar com tanta dedicação em disciplinas na faculdade, discutindo assuntos, conhecendo arte como conhecimento, como cultura, defendendo a área, não é fácil! Além de ter que aceitar a carga-horária inferior às outras disciplinas consideradas “disciplinas sérias”, e de fato não estar sendo cumprida a LDB de 1996 de forma integral por Arte não fazer parte da grade curricular de todas as séries do Ensino Médio.
Os marcos do passado estão presentes em muitas das vezes até na formação acadêmica do professor, apesar de já existir hoje até pós-doutorado na área. O que falta é conhecimento! O que falta é saber primeiramente o que é arte, qual o seu fundamento e importância na vida. Será que somente saber que arte desde a pré-história foi à primeira manifestação do homem é necessário? - Claro que não! Então o que é preciso para que as pessoas enxerguem o seu verdadeiro valor? – É necessário entender que vivemos num país rico em cultura e até hoje não a conhecemos de forma precisa. Infelizmente a educação cultural é para poucos, numa nação cujo país é “O país do futebol”, e não da cultura e  educação.
Infelizmente ainda vivemos num país onde o grafite é crime e a corrupção é arte!



sábado, 2 de junho de 2012

Ensino de Arte em Iraquara - Chapada Diamantina - BA: Centro Educacional Manoel Teixeira Leite


 Fotografia: Jailton Santoz

                                                                                                  Por Jailton Santoz
                “Se arte não fosse importante, não resistiria desde a pré-história às tentativas de menosprezo.” Ana Mae Barbosa
Neste mês de junho, farei oito meses que passei a morar em Iraquara- BA, eu que sou soteropolitano, tenho sido alvo de questionamentos de alguns alunos e professores, por qual razão eu teria saído da “Grande Salvador” para morar nesta cidade do interior... O meu feed back foi bem direto e objetivo, tenho explicado essa razão pela paixão por arte rupestre, que desde o primeiro semestre da faculdade, na disciplina de História da Arte 1 – Professora Marta Guedes, no curso de Licenciatura em Artes Visuais na UCSal – Universidade Católica do Salvador,  pude conhecer um pouco mais sobre essa herança ancestral que de forma ofegante me passa visualmente o poder para exploração imagética e poética, ainda que tenha sido há muitos anos objeto de estudo dos antropólogos, arqueólogos e historiadores, ainda que já exista sob diversos pontos de vista de diversos autores a vasta explanação sobre o assunto o meu desejo acompanhado de anseio é fazer um levantamento iconográfico  desses registros para um paralelo entre pinturas rupestres e a história da arte brasileira, fazer um mapeamento de alguns sítios arqueológicos em Iraquara para a construção de um projeto de pesquisa para o mestrado em História da Arte pela UFBA- Universidade Federal da Bahia em Salvador no período do Estágio Probatório.
No ano de 2010, surgiu a oportunidade de fazer o concurso público do Estado da Bahia, estando no penúltimo semestre da faculdade fiz o concurso, passei em primeiro lugar e um mês depois da minha formatura fui convocado e logo depois nomeado para a área que desde os 12 anos de idade sonhava em ser “professor de arte”, nuca pensei em ser outra coisa. Chegando a Iraquara sem conhecer nada e ninguém no dia 21 de outubro de 2011, uma sexta feira às 10h00min, tomei posse e fui me acomodando na cidade que de forma maravilhosa me recebeu muito bem, levarei sempre comigo a lembrança dessa cidade e os amigos que aqui conquistei. Na semana seguinte comecei minha jornada de trabalho e fui conhecendo os gestores, professores, funcionários e alunos. Ao longo das aulas fui percebendo a carente exploração da disciplina de arte de forma a valorizar suas premissas básicas, tempo em que (segundo os gestores) nunca houve professor de arte com formação adequada para o cargo, e assim foram juntando as peças em minha mente, fui conhecendo o território do CEMTL – Centro Educacional Manoel Teixeira Leite, conhecendo também a aptidão pouco explorada dos alunos, suas poéticas pessoais e iniciei meu trabalho com orgulho, dedicação e em primeiro lugar: Paixão, este é o segredo do sucesso de qualquer profissão, a realização pessoal precisa sempre vir primeiro.
Depois de ter desenvolvido trabalhos práticos, teóricos e experimentais com os alunos, tenho já uma ideia significativa em relação às diferenças culturais / regionais dos educandos iraquarenses do CEMTL e tenho tido retornos bem positivos tratando-se de mudanças e inovações no ensino de arte nesta instituição.
Há poucos dias um aluno do primeiro ano do Ensino Médio, ressaltou: “Professor, Artes nunca foi tão difícil, em se tratando de ter conteúdos, seminários e provas...” A princípio eu poderia ter ideias precipitadas e entender que ele não estaria gostando e nem sabendo lhe dar com a disciplina, já que segundo ele nos outros anos em Arte trabalhava-se apenas a prática da produção artística sem a correlação com a leitura imagética e a história da arte. Essa situação pra mim foi bem curiosa, a ponto de abrir mais os olhos e fazer um acompanhamento maior deste aluno no seu processo de aprendizagem. No final da unidade este aluno foi um dos melhores, quantitativamente e qualitativamente, obteve uma das maiores notas da sala e me fez concluir que seu questionamento foi apenas uma mudança de visão sobre Arte. Eu fiquei muito satisfeito e feliz por que sinto a necessidade de fazer diferença e mostrar o verdadeiro valor da disciplina, desmerecida muitas vezes pela própria escola e pelos próprios professores da área que nem sempre tem mostrado o porquê estudar arte, ou qual a importância da sua existência. Se o professor não conhecer esse valor e não souber passar para os alunos o fundamento e objetivo da educação cultural, os alunos jamais saberão o que é cultura, o que é conhecer arte e dessa forma as mudanças serão apenas temporal e as qualidades serão as mesmas.