domingo, 9 de setembro de 2012

O Processo do Conhecer Arte: Descobrindo poéticas pessoais.

Título: Sem título / Técnica: Grafite sobre canson x manipulação digital/ Autor: Jailto Santoz

Por Jailton Santoz

"Sempre faço o que não consigo fazer para aprender o que não sei" Pablo Picasso.
Venho revelar uma experiência minha em relação ao processo do conhecer arte, o processo do reencontro que me mostrou o conceito e significado de realização pessoal no fazer artístico, algo que ganhou a minha admiração e me fez mais do que um apaixonado, me fez um amante. Penso que a busca e a descoberta dessa realização deve ser inconstante na vida de um artista, sempre há algo novo para conhecer e sempre há o que aprender, principalmente nas trocas e nas relações dialéticas com outros artistas e outras poéticas. Esta é uma das maiores vantagens de seguir a área de arte por estar sempre lidando com o novo e poder buscar sempre mudanças.
Na minha infância após o período de alfabetização, passei estudar somente em escolas públicas, passando pelo processo comum de todos os alunos da rede estadual de ensino da Bahia em Salvador, lidando com as práticas da pedagogia tradicional até as mudanças da escola renovada. Em 2002 aos 13 anos de idade, no 8º ano do Ensino Fundamental, a escola em que eu estudava adotava uma prática de “escola e tempo integral” onde os alunos tinham a oportunidade de estudar em dois turnos, sendo um turno em aprendizagem regular e o outro em cursos profissionalizantes. Desde os meus sete anos de idade que eu rabiscava papeis, os desenhos que minha irmã vivia fazendo sem nenhuma pretensão profissional me chamavam muito à atenção e eu percebia que aquilo me atraia de uma forma muito especial e vivia desenhando não só em papeis, mas também na ladeira da rua em que eu morava, com gesso e pedaços de tijolos avermelhados, cerca de 70, 80 metros de cumprimento, onde as pessoas paravam para observar as mulheres peladas que saiam nas minhas criações. Sendo assim optei pelo curso de Artes Plásticas que para a minha felicidade a escola oferecia. Na Escola Parque, nas aulas da professora Isabel eu descobri e me descobrir em relação ao que queria para meu futuro, fui me certificando do que queria ser a partir das práticas dessas aulas, tempo em que a professora referenciava trabalhos de alguns artistas e pedia que os alunos se expressassem a partir do que mais gostava, do que mais chamava a atenção. Precocemente vivia perguntando a professora se fazer faculdade era muito difícil e o que eu deveria fazer para me tornar um artista e professor de Artes Plásticas... Relação esta que eu não tive no ensino regular nas aulas de Educação Artística com a professora Tereza, onde trabalhávamos apenas técnicas de desenho geométrico, um fato histórico no processo de mudanças no ensino da Arte.
No primeiro semestre de 2008 após ingressar na universidade no curso de Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas que posteriormente passou a se chamar Artes Visuais Licenciatura, peguei uma disciplina chamada Poéticas Visuais, ministrada pelo professor Antônio Carlos Portela, que de uma forma muito especial me fez descobrir qual era realmente a minha proposta como artista visual, eu que já tinha passado pelo processo de construções bi e tridimensionais nos vários estilos de natureza morta, marina, abstrato... No final da disciplina eu internalizei a relevância da descoberta das poéticas pessoais dos alunos nas aulas de Arte que eu ministrava nos estágios de regência, e aprendi a valorizar cada pincelada, cada traço pessoal de cada aluno, sabendo que a forma como desenhamos, como pintamos, como esculpimos é algo muito particular e deve-se despertar no aluno essa descoberta interna mesmo, a partir de experiências de outros artistas, das produções dos colegas, dos modelos prontos sim, não para copiá-los, mas para que o nível de conhecimento em arte e abstração possa ser significativo, fazendo com que o educando encontre o seu próprio criar, sua singularidade, seu traço, sua poética. Outra disciplina: Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pela professora Roseli Amado, pessoa na qual eu tenho uma admiração muito grande, também teve uma importância significativa por lidar com questões teóricas à estética das imagens, do conhecer as cores, os pontos, as linhas... E me fez digerir o valor que existe na educação do olhar, do conhecer texturas, pigmentações e relevos, para o vômito expressivo nas produções artísticas.
Como artista eu passei a reconhecer a importância que existe em ir ao íntimo, rever conceitos, rabiscar em todos os ângulos, de todas as formas e me reencontrar em uma proposta, em uma poética pessoal. Penso que o artista nunca está pronto, penso estar sempre em formação, mas o princípio básico deve ser esse despertar e desprender para o que se pretende expressar. Como educador em artes visuais levarei sempre em minhas práticas esse processo de descoberta nos alunos, a depender do que cada um almeja. Sinto essa necessidade pelo fato de ter tido a felicidade do reencontro, de ter passado por processos criativos e no fim deles chegar a um resultado positivo, um resultado que busquei e obtive com êxito. Sendo bom este resultado, mas nunca pronto, sempre inacabado, com brechas vulneráveis a conhecer sempre mais.