sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Irrelevância da Releitura da Obra de Arte: Criação ou limitação criadora?


Por Jailton Santoz

"As práticas de ensino de Arte apresentam níveis de qualidade tão diversificados no Brasil que em muitas escolas ainda se utiliza, por exemplo, modelos estereotipados para serem repetidos ou apreciados, empobrecendo o universo cultural do aluno." PCNs 1998

Venho de uma inquietação no que diz respeito às práticas conservadoras do ensino de Arte direcionado a cópia / reprodução, que infelizmente ainda existe no contexto de nossas aulas de arte do Ensino Básico no Brasil. Na construção da releitura da obra de arte existem procedimentos a serem seguidos e cabe ao professor a responsabilidade de mostrar a positividade de uma releitura valorizando essa atividade ao trabalho criador e não reprodutor.

Nada contra as recriações que se sustentam numa releitura de uma pintura ou escultura, mas o que se torna inviável é quando essa prática limita o horizonte criativo e perceptivo do aluno. Em uma experiência minha, no meu período de estágio supervisionado acompanhei o trabalho de uma professora de Arte de uma escola pública que em grande parte de suas atividades práticas em sala de aula era a apropriação da bendita releitura da obra de arte, e além do trabalho repetitivo e de forma incentivadora da “cópia” e limitação criadora a professora utilizava como modelo imagens de obras de Tarsila do Amaral, o Abaporú, diga-se de passagem, era o mais escolhido pela turma. Num certo dia eu me autoquestionei por que a repetição das mesmas obras na prática pedagógica dessa professora era tão grande e perguntei a ela o porquê de limitarem-se apenas as pinturas de Tarsila... Ela me respondeu: “Eu acho melhor trabalhar com essas imagens por que são mais simples, são mais fáceis pra eles trabalharem...”. Eu, decepcionado com a situação pensei: É... Além da releitura infrutífera, tem mais esse problema, por que a visão é que os alunos são meros reprodutores da arte e não tem a capacidade, por exemplo, de reler uma obra de Velázquez...

Baseado nesses questionamentos eu criei um fórum de debates incluindo opiniões de quatro arte-educadores para saber qual a visão dos mesmos sobre essa prática, iniciei o debate da seguinte forma:

- Existem formas positivas de enxergar uma releitura, claro, mas ela é negativa quando se torna uma prática e quando se apropria apenas de composições digamos com traços mais simples e "fáceis" de reproduzir, preconceituando o aluno com inatingível avanço criativo...

Jamilson de Sousa - Acredito que a releitura quando praticada por um estudante do Enino Fundamental é válida, más que isso não deva se aplicar a profissionais de arte, a simplicidade na composição da forma e cores de quadros modernistas, cubistas, abstracionista geométricos, alguns impressionistas, entre outros é o que torna possível ao estudante melhor perceber as utilizações de variações cromáticas e auxilia no desenvolvimento da coordenação e poder de reprodução de um estudante, Velázquez é renascentista, trabalha com realismo e gradientes pictórios, a menos que seja um profissional, não haverá exito harmonioso nem de forma nem de cor. Pessoalmente não gosto de releituras de obras de artes visuais, prefiro usar a apropriação de obras literárias e abordar a capacidade de criação e de representação de idéias, isso só é possível também por uma série de exercícios e aulas sobre a obra literária e sobre diversas técnicas artísticas.

- Então Jamilson... Entendo sua colocação e agradeço pela contribuição nessa discussão, mas a questão aqui explorada não é viabilizar uma releitura para entender questões técnicas das cores ou formas, mas sim desmerecer uma reprodução que limita a possibilidade de criar do aluno, até por que existem milhões de meios para entender questões sobre cor e por que usar justamente uma releitura? E quando eu falei de Velázquez, é por que muitos professores de Arte não acredita no potencial do aluno e por ser uma obra mais "complexa".

Jamilson de Sousa - É isso merece uma conferência, tudo que aprendemos parte do princípio básico da comunicação, esta é uma releitura, só sabemos o que sabemos por que nos foi apresentado essa realidade e produzimos a partir da expressão dessas experiências de aprendizado, além disso, a utilização de uma obra numa releitura não a desmerece ou a inferioriza, muito pelo contrario, mostra sua força quanto objeto questionador e o torna mais popular, e de certo eu te digo, se mostrarmos uma pintura da Tarcila e do Velázquez a um estudante há mais possibilidade dele conhecer a primeira e há uma série de fatores a isso. Claro, é uma opinião profissional pessoal, e embora eu não faça prática da releitura de obras artísticas, não condeno a quem faça, apenas acredito que esse exercício pode ser melhor substituído por outras atividades, como você mesmo disse, nem o grito, ou a monalisa, ou o abaporú, possui essência menor que arte, e nem deixa de ser a mesma pelas releituras. Isso merece uma discussão mais profunda, não pelos certos ou errados, más pelos prós e contras.

- Sim, Jamilson de Sousa... Realmente seria muito mais completo esse debate se nos fosse permitido à oportunidade de uma "conferência" como você disse, para colocarmos pontos nos Is ou não, mas acredito na riqueza cognitiva que uma discussão virtual pode causar. Então... Eu não sei se você leu logo acima o que falei sobre a positividade da releitura, mas, mais uma vez faço questão de dizer que o que torna negativo é quando a releitura não tem nenhum fim criador, fato presente em muitas escolas nas aulas de Arte, infelizmente. E em relação ao entender que releitura é releitura por que "aprendemos" a partir da produção e expressão de experiências, digo que não necessariamente, até por que pra eu saber que "cair" machuca eu não preciso cair e me machucar para entender isso. E para conhecer uma obra de Tarcila, Velázquez ou outro pintor, não é necessário ter que reler uma obra de cada um deles. Eu também não condeno quem pratica a releitura erroneamente, quem sou eu pra condenar, apenas lembro-me das práticas vazias em arte da década de 60, e mais uma vez a questão aqui também não diminui ou inferioriza obra de artista nenhum, até por que o assunto é outro. Claro que a releitura vai dar essa possibilidade de aprendizado, mas existem muitas outras metodologias de aprendizagem para tanto. De forma alguma desmereço e / ou desconheço qual quer possibilidade positiva que uma releitura pode oferecer, mas sou desfavorável quando é a arte por arte e fico triste quando o professor não passa para os alunos o porquê estudar arte, por que é preciso conhecer arte e simplesmente defende uma prática como essa sem uma correlação consistente.

Sebastião Miranda Filho - Olá Jailton! Tudo bem? Acredito que essas discussões temáticas sejam um bom exercício de pensar a arteeducação, por outro lado vejo que nem sempre é possível reduzir assuntos complexos neste formato de comunicação: deu vontade de estarmos conversando longamente sobre o tema talvez sentados diante da capelinha do Unhão (Museu de Arte Moderna da Bahia), numa roda de colegas bem propositores. Leitura e Releitura merecem ser bem esmiuçadas como estratégias de apreensão e desenvolvimento do saber e do saber fazer Arte, mas dependem mesmo do educador generoso e não apressado - você tem toda razão!

Verdade Sebastião...Tudo bem sim. O meu desejo também seria este, poder discutir essa "problemática" de uma forma presencial até por que é um tema bem propositor, mas enquanto isso não acontece vamos explorando esses assuntos por aqui mesmo (risos). E como você falou sobre o "desenvolvimento do saber e saber fazer arte" é algo complexo para professores que desconhecem o conceito e significado da arte e simplesmente entendem a arte como objeto pronto (o belo) e não como proposta.

Cássio Almeida - A releitura torna-se exercício do olhar. Acredito no envolvimento da maneira abordada, possibilitando reflexões em vários territórios, independente da obra utilizada nesta proposição, a meu ver, a escolha deverá partir de um contexto de uma relação. Infelizmente muitos professores associam releitura com cópia /reprodução, inclusive quando fui lecionar pela primeira vez numa turma de fundamental I, na concepção de muitos alunos releitura seria reprodução, portanto a minha responsabilidade de mudar essa posição foi intensa. No entanto gosto bastante de fazer uma ponte/transpor para o contemporâneo. Quanto à questão das obras literárias, que fora citada como um instrumento de releitura, também uma possibilidade riquíssima, diálogo com verbal e não verbal, veículos que se contemplam a todo momento. Já usei poesias de Manoel de Barros para processo de criação, uma releitura do poema por meio da linguagem visual. As releituras nos surpreendem! Abraços a todos!

- Com certeza Cássio! Obrigado também pela contribuição. Eu sou 100% favorável quando a apropriação da releitura é para fazer pontes como nessa citação referente às obras literárias, quando proporcionará algo criador. Sou contra quando ela se torna uma prática de reprodução, como você disse: “isso é um conceito de muitos alunos” quando a releitura visa à cópia e não trás nenhuma experiência artística. Não consigo enxergar uma releitura de uma pintura ou escultura como não veículo de reprodução ainda que isso vá causar mudanças, algo que vá diferenciar, até por que não existem duas pinturas iguais, mas de certa ou errada forma a limitação criadora vai acontecer, a ponto de “ter” que seguir a mesma temática, limitar-se a imagem que está a frente.

Cássio Almeida - Entendo Jailton Jack com seu ponto de vista. A Releitura é uma discussão bastante complexa, na história da arte, vejamos inúmeras inspirações, irei citar a obra "A Dança" de Matisse, partiu de inspiração, (na minha análise a vejo como releitura a obra de Lucas Cranach chamada " Das Goldene Zeitalter"). Como há outros artistas que procuraram e continua procurando inspirações, outro exemplo, a Obra de Courbet "A origem do mundo" foi inspiração e ponto de partida para uma releitura na produção do artista Henrique Oliveira (instalação: A origem do terceiro mundo) assim questões de criação pode partir de um pressuposto, não limitando o processo criativo, tais inspirações as vejo como um processo de releitura, não ocasionado à limitação e sim uma transgressão sustentada por referências. Um abraço!

- Então Cássio... Achei bacana a fundamentação que você buscou, mas quando a releitura parte de uma pintura para uma instalação com água, vento e fezes é uma realidade, de forma que sou totalmente a favor, mas quando está dentro do contexto escolar e estimula a reprodução dos mesmos traços e cores numa outra pintura se torna algo bem negativo.

Sebastião Miranda Filho - Acredito que o educador deva acordar com o grupo da intencionalidade da atividade proposta em cada momento. A cópia também faz parte da construção do desenhista/pintor e é importante na passagem da estética infantil para a estética adulta. A Rosa Iavelberg fala disso muito bem. Mas isso tem que estar amadurecido no educador como uma possibilidade no uso das reproduções de obras de arte na escola e não ser sinônimo de leitura e releitura de obras de arte.

- Eu sempre estou aberto a aprender, acho que trocas sempre de alguma forma são ricas, mas vou discordar pelo reflexo que essas atividades propostas como "cópia" nos remetem... Como por exemplo, a mera atividade educativa em arte na década de 60, que se baseava em modelos prontos como via de reproduções, gerando um trabalho imediatista e sem proposta criadora. Prefiro a aproporiação de modelos de pinturas, esculturas para a explanação teórica onde se insere na história da arte e também como elemento estético para apreciação e fonte de explicação técnica de construção no processo criativo do aluno, sem que ele precise copiar e sim criar o seu prórprio trabalho.

Cássio Almeida - Eu já presenciei práticas por meio de falas semelhantes as que foram relatadas. “Cópia também faz parte da construção do desenhista/pintor", isso na esfera técnica, em ateliês que oferecem pintura em tela, um mecanismo muito constante, onde encontramos revistas com produções artísticas em tela, para serem usadas como modelo. De certa maneira priva a criação. No âmbito escolar a visão de reprodução foi sustentada por muito tempo, como apontado pelo Jailton Jack. Acredito no nosso intuito como arte-educadores estimular, propor momentos que promovam a criação por meio da reflexão, fundamentando a arte, mostrar ao aluno seu papel na sociedade como agente cultural de seu espaço e suas poéticas.

- Perfeitamente Cássio Almeida. O problema em muitas práticas em arte na escola é justamente essa, a ligação direta a oficina de artes plásticas, a direcionado a técnica na apropriação de modelos prontos. Se nós arte-educadores não soubermos mostrar a diferença entre arte-educação e oficinas de arte, jamais o ensino de Arte irá progredir.

Sebastião Miranda Filho - Bem, desculpe discordar, mas não acho que o arte-educador deva estar somente no ambiente escolar e o artista educador nos ateliês de arte - não acredito como arte-educador que este formato de escola com mais de 30 alunos por sala anime qualquer ação educativa em arte, então prefiro os espaços educativos fora das escolas com arte-educação. Eles estão nas ruas, nos centros culturais, nos museus, nos ateliês, e até nas escolas, desde que não tratando pessoas no atacado como se apresenta na maioria das vezes.

Jamilson de Sousa - A escola não forma o aluno, o profissional em arte educação sim. Adorei o papo.

- Então meu querido Sebastião Miranda Filho... O que eu coloquei acredito ter sido muito claro, quando eu me refiro ao trabalho de arte-educação que em sua proposta vai além de criações e releituras como em oficinas que se torna algo mais "prático" e imediatista "acadêmico". Acho que educar em arte não se limita a uma sala de aula, é claro, os museus, exposições, o cemitério, a urbanização     existe “para isso”, para arte-educar buscando uma extenção além do contexto escolar. Estou muito feliz com esse debate por que gera crescimento, mostra a criticidade de cada um e quanto as diferentes opiniões sou favorável por que todos nós tivemos uma formação e cada um a digeriu de uma forma singular.

Sebastião Miranda Filho - Sim Jailton, é isso que vai deixando cada vez melhores as discussões, parabéns por propô-las. O que eu dizia quanto a preferir rodas de conversas presenciais, é que nelas poderiamos localizar estas diferenças conceituais com mais clareza. Concordo desde o início do mau uso das releituras como são feitas na sua descrição; ninguém merece copiar as mesmas Tarsilas simplesmente por copia-las. Sabemos das infinitas possibilidades de abordagens na arte educação a partir de uma boa reprodução de obra de arte ou de um original. Acho que o mau uso acontece quando o educador não tem bom repertório de leitura e exploração da leitura com o grupo antes de propor a releitura, incentivando esse exercício com toda a liberdade de criação apoiada por esses repertórios conceituais proprios da releitura, como a apreensão, a citação, a intertextualização e quando for o caso a cópia.

- Exatamente Sebastião!

Márcio Prado - Interessante observar os pontos positvos e negativos nas tentativas de inserir o aluno através de variadas práticas... Como bem colocado antes os modelos estereotipados limitam a criação do aluno, gosto da releitura na arte-educação com o objetivo claro de deixar automaticamente na zona de criação, sobre releituras de Velázquez... Gostei muito do que o colega Jamilson falou e concordo com ele de que haveria dificuldades no exito harmonioso de forma e de cor. Meus parabéns a todos pelas colocações, li e achei todos os comentáros muito ricos.

- Meu querido Márcio Prado, meu amigo e ex-colega de faculdade, obrigado também pela contribuição nesse debate riquíssimo, estou muito feliz com a repercussão dessa discussão. Então... Eu estou ciente de que o mundo é formado por diferentes opiniões, a final se não fosse assim não haveria criticidade. Mas vou de encontro com você quando diz que concorda com "haveria dificuldade no exito hamonioso de forma e cor" acreditando que a releitura proporciona essa situação, não que a prática de reler uma obra não proporcione tal experiência, mas por que não estudar técnicas de cor ou o que seja numa produção criada pelo próprio aluno? Quero dizer que existem diversas metodologias para tanto e sendo assim não teria com haver dificuldade alguma, muito pelo contrário o aluno criando sua própria obra no estudo sobre forma e cor ele não seria estimulado a reproduzir/ copiar e não deixaria de aprender essas técnicas em sua prática. Prefiro que a apropriação de uma obra de arte se direcione a apreciação e leitura estética, ou mesmo estudar questões cromáticas e técnicas além das referências na história da arte. O mais inquietante que pude ler nesse debate referente à releitura foi “auxilia no desenvolvimento da coordenação e poder de reprodução de um estudante” na citação do colega Jamilson... Gente, coordenação e poder de reprodução se tornam diretamente utilitarista e imediatista, escapando-lhe a dimensão do criar a partir de sua poética pessoal, ou seja, dessa forma estamos regredindo a década de 70, 80 voltando para as aulas de “Educação Artística” tempo em que estudar “arte” era a apropriação de fatores mecânicos que a sociedade desmerecia muito mais do que nos dias de hoje desconhecendo o valor e a importancia existencial da arte.

Cássio Almeida - Agradeço ao Jailton Jack por propor discussões tão significativas.

- Eu que agradeço pelo retorno de vocês. Até a próxima!

A intenção proposta aqui é gerar reflexão principalmente para os professores de arte, os professores de outras áreas que ensinam arte e para os alunos, que a partir do momento em que eu deixo de criar, automaticamente deixa-se de produzir arte enquanto proposta.

“A arte começa quando a imitação acaba.” Oscar Wilde


sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Nu Artístico Nas Práticas Pedagógicas de Arte.


(Título: Sem título. Técnica: Grafite sobre canson. Autor: Jailton Santoz)
                                                                                                                                Por Jailton Santoz


"O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada.” PCNs 1997


Na abordagem teórica do ensino de arte é impossível não contextualizar a presença do nu artístico no período da pré-história até os dias atuais, como no exemplo da Vénus de Willendorf, dos nus de Tarcila do Amaral e Anita Malfatti na arte moderna, e as fotografias, instalações e performances no contexto da arte contemporânea que exploram o nu como proposta artística. Mas a questão é que na prática do ensino de arte a parte de produção artística direcionada ao nu tem chocado bastante, tem sido alvo de questionamentos e causado repulsa entre gestores, pais e muitas vezes pelos próprios alunos por entrar em contato visual com a sexualidade e por consequência de fazer alusão ao erotismo e a sensualidade.

Numa experiência minha em sala de aula, foi bem tranquilo em relação a essa “problemática” na exploração do nu. Eu trabalhei com turmas do 1º ano do Ensino Médio e primeiramente foi preciso fazer um paralelo com a História da Arte, mostrando a presença e importância da abordagem histórica para complementar cognitivamente o processo criativo da prática, ou seja, mostrar a importância de estar vivenciando uma produção de pintura ou escultura para que o aluno soubesse o porquê ou pra que estudar arte, acreditando ser fundamental a relação teoria e prática inserindo a abordagem triangular que envolve produção, leitura estética e contextualização.

Há alguns dias li um artigo em um site que falava sobre a repulsa de estudantes em                 uma universidade no Amazonas por presenciar uma performance artística que envolvia quatro corpos nus onde o corpo era utilizado para exemplificar o processo criativo da técnica de monotipia. A matéria ressaltou:
Uma apresentação artística com quatro estudantes nus chocou estudantes da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, na quarta-feira (21). A acolhida aos calouros no curso de Licenciatura de Artes Plásticas durante o projeto ‘Café com Artes’ gerou polêmica. As informações são do portal “G1”.
Alguns estudantes se sentiram constrangidos diante da apresentação, que pretendia mostrar como funciona na prática a técnica de monotipia (processo de impressão artística por meio do qual se transfere, por pressão, uma pintura em cobre, vidro ou matéria plástica, para o papel). “As pessoas não estão acostumadas com esse tipo de coisa. Apoio quase todas as manifestações de arte na Universidade, mas essa foi meio tensa”, declarou ao portal de notícias o aluno do 4° período de Língua e Literatura Francesa, Bruno Davila.
“A roupa só iria atrapalhar [o processo]”, contou o idealizador da mostra, Fabiano Barros. Segundo o autor do trabalho, a mostra foi autorizada pelo professor Doutor do Departamento de Artes da Ufam, Otoni Mesquita. “Ninguém esperava um trabalho tão audacioso, porque 99% das pessoas têm medo ou repulsa ao nu, à beleza natural”, acrescentou.
Segundo a chefe  do Departamento de Artes, Denize Piccolotto, o nu artístico não chegou a acontecer porque os alunos usaram tapa sexo e estavam com o corpo pintado. “Eu acho que falar mal disso, em pleno século XXI, é um exagero por parte de pessoas que desconhecem o valor e o significado da arte”, disse a professora.”
A minha preocupação maior foi por que o evento prestigiava alunos calouros na abertura do semestre do curso de Licenciatura em Artes Plásticas da universidade, ou seja, se no próprio meio acadêmico houver esse distanciamento, jamais o nu artístico será bem visto no ensino básico ou em qualquer lugar. Nós enquanto artistas e arte-educadores temos a responsabilidade de buscar subsídios para a melhor compreensão desta questão e o compromisso de transmitir a proposta do nu enquanto arte, independente do que pode ser refletido como consequência. A questão é que arte ainda é um conhecimento fragmentado para grande parte da população brasileira, e entender arte contemporânea é algo mais distante ainda. Neste mesmo site de pesquisa encontrei uma matéria ainda mais absurda, a mesma ressaltou a demissão de uma professora por “incentivar” o nu em sala de aula.  O texto dizia o seguinte:
Uma professora do 7° ano de uma escola pública de Luís Correia (344 km de Teresina), foi demitida pelo governo do Piauí por ter pedido a um aluno que tirasse a roupa em sala de aula para que outros estudantes o desenhassem. A denúncia foi feita pelo Conselho Tutelar do município, que viu constrangimento dos alunos com o fato.
A demissão da docente foi publicada no Diário Oficial do Estado da última segunda-feira (22), após conclusão de um longo processo de sindicância que apurou as circunstâncias do fato ocorrido em abril de 2010, na escola Ricardo Augusto Veloso.
De acordo com a professora acusada, durante uma aula em que falava sobre mitologia grego-romana ela perguntou se algum dos alunos queria ir à frente da sala de aula tirar a roupa para que os outros estudantes da classe o desenhassem como uma escultura.
Um dos alunos aceitou o convite e começou a tirar a roupa. Logo após tirar a camisa e a calça, uma aluna afirmou que se sentiria constrangida com a situação, e a atividade teria sido suspensa imediatamente, sem mais constrangimentos.
A comissão que investigou o caso entendeu que houve “falta grave” e descumprimento do estatuto do servidor público e lei complementar que regulamenta a educação no Estado.
A comissão também concluiu que houve constrangimento por parte dos alunos com a iniciativa da professora. “Dada a gravidade da ilicitude praticada, a Comissão Processante conclui que a servidora indiciada merece ser punida com demissão.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Piauí questionou se o caso mereceria uma demissão por justa causa e prometeu analisar o fato.”
Penso que existem diversas formas metodológicas de exemplificar um nu artístico em sala de aula depois de uma abordagem histórica, de fazer referências com fotografias, pinturas, esculturas para uma produção prática de desenho, porém não há mal algum em se apropriar de um modelo vivo para a inspiração do trabalho, desde quando não comprometa a integridade de ninguém e não vá ferir ou ir de encontro com o regulamento da instituição de ensino. Fiquei impactado com a demissão da professora por esta razão, sou favorável que equívoco da mesma foi uma falta grave por ter sido infeliz em sua metodologia, mas acredito que deveria existir uma maneira mais flexível para a “punição” da mesma. Infelizmente a sociedade ainda é muito “verde”, despreparada de tal maneira a ponto de encarar como politicamente correto as diretrizes estipuladas por ela, tão somente enxergar o que é certo aquilo que é aparentemente belo. O mais interessante de tudo isso é: Por que o nu choca na arte e no carnaval é peça fundamental? Um exemplo disso é a performance da famosa bailarina titulada como “Globeleza” exibida para todas as faixas de idade na mais prestigiada emissora da TV brasileira. Por que a minissaia, mini shorts e tops que incentivam a sensualidade, o erotismo é prestígio na moda brasileira? Tais situações certamente são vividas por pessoas que desconhecem o conceito e valor da arte, pessoas que tiveram uma experiência de aprendizagem limitada. Este é mais um exemplo de que é preciso sair do estado de alienação e manipulação do que é aparentemente correto e buscar a criticidade de uma maneira mais relevante e fundamentada.