quinta-feira, 6 de junho de 2013

Arte Contemporânea no Senso Comum: estranhamento poético.


Técnica: Aquarela sobre canson. Sem título. Autor: Jailton Santóz

Por Jailton Santóz

“O artista visual contemporâneo é um propositor teórico que se apropria da prática da imagem para vomitar sua essência poética.”
Um dia na escola conversando com um professor de História falávamos sobre definições de arte contemporânea a partir do que é mais explícito em uma produção de arte visual na atualidade. Ele me falava a cerca de suas dificuldades de interpretação do que na maioria das vezes é implícito na obra por ser uma arte conceitual, cerebral em que a proposta expressiva não é o objeto pronto em si mas está no objeto pronto afim do despertar do espectador às sensações, relações e conceitos. 
Indo adiante no debate com o colega de profissão percebi que suas indagações se direcionavam a uma ideia de arte enquanto ideal de beleza, enquanto um padrão estético estereotipado como belo a partir do que lhe parecia agradável aos olhos. Este fato ainda é grande maioria no Brasil. O conhecer arte em sua essência ainda me parece estar longe da realidade intelectual das pessoas, seja por ingonrância ou mesmo pelo desmerecimento ou desprestígio do cargo que a arte ocupa neste país.
Num outro dia conversando com um aluno do Ensino Médio falávamos sobre a seleção do AVE – Artes Visuais Estudantis (projeto do Governo do Estado da Bahia / Secretaria de Educação que seleciona e premia obras de artes visuais de alunos) e ele me passava suas ideias de criação a serem  projetadas numa tela e disse: “Professor, eu quero fazer uma paisagem, algo que seja bem bonito...” Concordando com seu desejo eu respondi que iriamos iniciar as oficinas e que neste tempo ele amadurecesse sua proposta e logo começaríamos o processo, porém o universo das artes visuais não se limita em pintura em tela, pois existe uma gama de possibilidades / materiais que podem ser explorados. Pintar em tela é incrível, é mágico, de forma alguma inferiorizo esta técnica, porem existem possibilidades de criação tão interessantes quanto esta. Aproveitei a situação para falar um pouco de arte contemporânea e de maneira bem sucinta levantei algumas características imateriais / poéticas da arte pós-moderna. Ele observando seriamente e enrrugando as sobrancelhas me pareceu descontente no início, mas logo começou a interagir e concordar com o que eu explanava. A intensão era justamente esta, o desequilíbrio para o conhecimento.
Que fique bem claro que a arte contemporânea não interfere ou influencia na criação de ninguem, ela vem somar, vem criar subsídios, trazer novas e diversas formas de criação. Ela confirma ainda mais que arte não é uma simples produção humana a  meros fins decorativos, mas é também cognição.
 Na hora da decorar da sala de casa por que a maioria das pessoas ainda hoje preferem as pinturas que retratam flores, vasos, pássaros, paisagens...? Sem querer desmerecer qualquer tipo/tendência artesanal ou artística mas, por que não uma instalação feita de água, terra e fibra? Porquê o ideal de beleza ainda se restringe ao que é predominantemente “bonitinho”, porquê as pessoas enfeitam suas casas imaginando a reação de quem chega, o que  vão achar da aparência, do que é comum. O comum não acresce em nada! O comum ajuda a manter o hoje, o agora impedindo o amanhã e o depois seja na arte ou em qualquer campo.
A arte contemporânea vem causar o desequilíbrio, a desestruturação, a abstração da visão de mundo das pessoas. Ao mesmo tempo em que ela gera discussões dos mais diversos temas, nos trás também um “novo” conceito de arte, uma nova significação do que é belo, bom e agradável.