domingo, 15 de dezembro de 2013

Uma Releitura da Obra de Rubem Valentim: Jailton Santóz e seu desenvolvimento poético nas artes visuais.

                                                                                  Sem título/ acrílica sobre canson/ Jailton Santóz

Por Jailton Santóz


Este texto tem por inspiração a reflexão da linguagem plástico-visual-signográfica de Rubem Valentim em seu “Manifesto Ainda que Tardio”, artigo no qual revela sua identidade artística por meio de uma estética fundamentada de códigos e de signos expressivos da cultura afro-brasileira.  Nele, eu, Jailton Santóz ganhei inspiração para falar do meu trabalho como artista, me apropriando da linguagem instrumentalizada de Valentim, desenvolvendo um relato de experiências e maturação artística em minha poética visual que tem como estrutura conceitual e estética os fundamentos do olhar para as fragmentações do corpo feminino, dissociado especificamente de condições afro-brasileiras, porem ao mesmo tempo interligado a um gênero, diversos signos e as diversas etnias.

Minha poética está diretamente inerente à sexualidade. Sexualidade pelo prazer e pela estética estimuladora da movimentação do olhar sensual por meio de partes do corpo da mulher. A alusão ao sexo leva em consideração às representações destacadas na obra em paralelo à sensibilidade de cada espectador que pode vir ao contexto da sensualidade, consequente do contínuo e matemático uso de curvas, ondulações e formas. Quando me refiro a estas identificações etnográficas e etnológicas exponho a minha visão enquanto espectador de minha própria obra, mas consigo subsídios a mais quando o olhar é do público. Esta experiência já aconteceu algumas vezes nas exposições que participei e realmente a realidade é abstrata por se tratar de contribuições tão pessoais, de olhares subjetivos a cerca dos elementos formais e das mensagens cognitivas expressadas nas obras.

As pinturas, relevos e esculturas relacionadas ao meu trabalho plástico/visual não nasceram prontas, assim como todo artista visual que se aprimora com o tempo, eu passei cerca de onze anos de trabalho aleatório em diversas técnicas e apropriações para chegar a um consenso estético e filosófico da minha proposta expressiva, apesar de que desde a infância representar o nu feminino sempre foi uma prática de prazer para mim. Morava em uma das ruas da cidade de Salvador na Bahia em que a ladeira desta rua ganhava sempre uma nova aparência até o momento em que a chuva chegava e apagava os desenhos a giz feitos por mim. Pessoas passavam e quando não paravam para olhar, caminhavam olhando, os desenhos de “mulher nua” feitos por uma criança que somente depois de ingressar na graduação, na fase adulta, reconhece que o gozo em arte está nas possibilidades de expressar o que sente e pensa. Concluindo que fazer arte é a satisfação de um desejo que resulta em fazer, ver e prazer. 

As descrições etnográficas das minhas obras se destacam pelos contrastes pictóricos do preto e branco e suas derivações cromáticas, pelas curvas acentuadas presentes em todas as obras, pelo volume causado pelos altos relevos produzidos, pelo movimento circundante aleatório que não expressa início, nem meio e nem fim, pelo número matemático quantitativo de representações ou unicidade representada em seu todo.  Minha obra é sempre o todo e sempre partes do todo.

Os principais conceitos etnológicos do meu trabalho refere-se a um gênero: feminino, a signos e a etnias. A representação feminina faz alusão ao meu vínculo maternal afetivo, eu que tive uma mãe soberana, os signos expressados pela coletividade expressam uma dor, a dor da ausência e da solidão, o movimento nas obras é como um relógio que marca o tempo, mas não diz quando este tempo começou e quando irá terminar, o uso do branco (cor e não pele) ou preto (ausência de cor e não pele) visa uma representação étnica não diretiva, mas potencializada para possibilitar o olhar adverso para representações humanas de forma universal, sem dar qualidades e identificações, o objetivo é esclarecer e/ou confundir.


REFERÊNCIA


VALENTIM, Rubem. Manifesto Ainda Que Tardio. Salvador, p. 1-2, jan. 1976.