(Título: Sem título. Técnica: Grafite sobre canson. Autor: Jailton Santoz)
Por Jailton Santoz
"O ser humano que não conhece arte tem uma
experiência de aprendizagem limitada.” PCNs 1997
Na abordagem teórica do ensino de arte
é impossível não contextualizar a presença do nu artístico no período da pré-história
até os dias atuais, como no exemplo da Vénus
de Willendorf, dos nus de Tarcila do Amaral e Anita Malfatti na arte moderna, e as fotografias, instalações e
performances no contexto da arte contemporânea que exploram o nu como proposta
artística. Mas a questão é que na prática do ensino de arte a parte de produção
artística direcionada ao nu tem chocado bastante, tem sido alvo de
questionamentos e causado repulsa entre gestores, pais e muitas vezes pelos
próprios alunos por entrar em contato visual com a sexualidade e por
consequência de fazer alusão ao erotismo e a sensualidade.
Numa experiência minha em sala de aula, foi bem tranquilo em relação a essa “problemática” na exploração do nu. Eu trabalhei com turmas do 1º ano do Ensino Médio e primeiramente foi preciso fazer um paralelo com a História da Arte, mostrando a presença e importância da abordagem histórica para complementar cognitivamente o processo criativo da prática, ou seja, mostrar a importância de estar vivenciando uma produção de pintura ou escultura para que o aluno soubesse o porquê ou pra que estudar arte, acreditando ser fundamental a relação teoria e prática inserindo a abordagem triangular que envolve produção, leitura estética e contextualização.
Numa experiência minha em sala de aula, foi bem tranquilo em relação a essa “problemática” na exploração do nu. Eu trabalhei com turmas do 1º ano do Ensino Médio e primeiramente foi preciso fazer um paralelo com a História da Arte, mostrando a presença e importância da abordagem histórica para complementar cognitivamente o processo criativo da prática, ou seja, mostrar a importância de estar vivenciando uma produção de pintura ou escultura para que o aluno soubesse o porquê ou pra que estudar arte, acreditando ser fundamental a relação teoria e prática inserindo a abordagem triangular que envolve produção, leitura estética e contextualização.
Há alguns dias li um artigo em um
site que falava sobre a repulsa de estudantes em uma universidade no Amazonas por presenciar
uma performance artística que envolvia quatro corpos nus onde o corpo era utilizado
para exemplificar o processo criativo da técnica de monotipia. A matéria ressaltou:
“Uma
apresentação artística com quatro estudantes nus chocou estudantes da
Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, na quarta-feira (21). A
acolhida aos calouros no curso de Licenciatura de Artes Plásticas durante o
projeto ‘Café com Artes’ gerou polêmica. As informações são do portal “G1”.
Alguns estudantes se sentiram constrangidos diante da apresentação, que
pretendia mostrar como funciona na prática a técnica de monotipia (processo de
impressão artística por meio do qual se transfere, por pressão, uma pintura em
cobre, vidro ou matéria plástica, para o papel). “As pessoas não estão
acostumadas com esse tipo de coisa. Apoio quase todas as manifestações de arte
na Universidade, mas essa foi meio tensa”, declarou ao portal de notícias o
aluno do 4° período de Língua e Literatura Francesa, Bruno Davila.
“A roupa só iria atrapalhar [o processo]”, contou o idealizador da
mostra, Fabiano Barros. Segundo o autor do trabalho, a mostra foi autorizada
pelo professor Doutor do Departamento de Artes da Ufam, Otoni Mesquita.
“Ninguém esperava um trabalho tão audacioso, porque 99% das pessoas têm medo ou
repulsa ao nu, à beleza natural”, acrescentou.
Segundo a chefe do Departamento de
Artes, Denize Piccolotto, o nu artístico não chegou a acontecer porque os
alunos usaram tapa sexo e estavam com o corpo pintado. “Eu acho que falar mal
disso, em pleno século XXI, é um exagero por parte de pessoas que desconhecem o
valor e o significado da arte”, disse a professora.”
A minha preocupação maior foi por que
o evento prestigiava alunos calouros na abertura do semestre do curso de Licenciatura em Artes Plásticas da universidade, ou seja, se no
próprio meio acadêmico houver esse distanciamento, jamais o nu artístico será
bem visto no ensino básico ou em qualquer lugar. Nós enquanto artistas e
arte-educadores temos a responsabilidade de buscar subsídios para a melhor
compreensão desta questão e o compromisso de transmitir a proposta do nu
enquanto arte, independente do que pode ser refletido como consequência. A
questão é que arte ainda é um conhecimento fragmentado para grande parte da
população brasileira, e entender arte contemporânea é algo mais distante ainda.
Neste mesmo site de pesquisa encontrei uma matéria ainda mais absurda, a mesma
ressaltou a demissão de uma professora por “incentivar” o nu em sala de
aula. O texto dizia o seguinte:
“Uma
professora do 7° ano de uma escola pública de Luís Correia (344 km de
Teresina), foi demitida pelo governo do Piauí por ter pedido a um aluno que
tirasse a roupa em sala de aula para que outros estudantes o desenhassem. A
denúncia foi feita pelo Conselho Tutelar do município, que viu constrangimento
dos alunos com o fato.
A demissão da docente foi publicada no Diário Oficial do Estado da última
segunda-feira (22), após conclusão de um longo processo de sindicância que
apurou as circunstâncias do fato ocorrido em abril de 2010, na escola Ricardo
Augusto Veloso.
De acordo com a professora acusada, durante uma aula em que falava sobre
mitologia grego-romana ela perguntou se algum dos alunos queria ir à frente da
sala de aula tirar a roupa para que os outros estudantes da classe o desenhassem
como uma escultura.
Um dos alunos aceitou o convite e começou a tirar a roupa. Logo após
tirar a camisa e a calça, uma aluna afirmou que se sentiria constrangida com a
situação, e a atividade teria sido suspensa imediatamente, sem mais
constrangimentos.
A comissão que investigou o caso entendeu que houve “falta grave” e
descumprimento do estatuto do servidor público e lei complementar que
regulamenta a educação no Estado.
A comissão também concluiu que
houve constrangimento por parte dos alunos com a iniciativa da professora.
“Dada a gravidade da ilicitude praticada, a Comissão Processante conclui que a
servidora indiciada merece ser punida com demissão.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Piauí questionou se
o caso mereceria uma demissão por justa causa e prometeu analisar o fato.”
Penso que existem diversas formas
metodológicas de exemplificar um nu artístico em sala de aula depois de uma
abordagem histórica, de fazer referências com fotografias, pinturas, esculturas
para uma produção prática de desenho, porém não há mal algum em se apropriar de
um modelo vivo para a inspiração do trabalho, desde quando não comprometa a
integridade de ninguém e não vá ferir ou ir de encontro com o regulamento da
instituição de ensino. Fiquei impactado com a demissão da professora por esta
razão, sou favorável que equívoco da mesma foi uma falta grave por ter sido
infeliz em sua metodologia, mas acredito que deveria existir uma maneira mais
flexível para a “punição” da mesma. Infelizmente a sociedade ainda é muito
“verde”, despreparada de tal maneira a ponto de encarar como politicamente
correto as diretrizes estipuladas por ela, tão somente enxergar o que é certo
aquilo que é aparentemente belo. O mais interessante de tudo isso é: Por que o
nu choca na arte e no carnaval é peça fundamental? Um exemplo disso é a
performance da famosa bailarina titulada como “Globeleza” exibida para todas as
faixas de idade na mais prestigiada emissora da TV brasileira. Por que a
minissaia, mini shorts e tops que incentivam a sensualidade, o erotismo é
prestígio na moda brasileira? Tais situações certamente são vividas por pessoas
que desconhecem o conceito e valor da arte, pessoas que tiveram uma experiência
de aprendizagem limitada. Este é mais um exemplo de que é preciso sair do
estado de alienação e manipulação do que é aparentemente correto e buscar a
criticidade de uma maneira mais relevante e fundamentada.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Prof Jailton, excelente discursiva entorno desta problemática.Aproveitando,gostaria de fazer um paralelo,mencionando a Obra de Gustave Courbet, intitulada " A Origem do Mundo",encontramos nela a abordagem do nu, ao evidenciar órgão sexual certamente o artista provoca a convergência entre composição e temática.Um ponto importante a ser discutido, a maneira poética presente ao título torna-se preponderante a intenção literal construída plasticamente.Assim os elementos plásticos contidos,foram subsídios para consolidar reflexões que se desprendem daquele olhar "pobre" alusivo ao erotismo e sensualidade."A Origem da Vida", traz em primeiro plano o questionamento da vida, do nascimento, surgimento do ser humano.Uma possível discussão em sala de aula; no entanto, a sociedade com seus paradigmas, construíram e continua sustentando de maneira contraditória,pudor, constrangimento, ofensiva na questão do nu artístico.Compartilho da mesma angustia, porque será que na arte tal temática choca? Faz emergente a (re)construção de olhar. Um grande abraço.
ResponderExcluirOlá professor Cássio!
ExcluirFico grato pelas palavras e contribuição para essa discussão. É sempre muito rico a troca de experiências para uma compreensão mais ampla sobre tema. O nosso papel é justamente esse como você disse, é quebrar esses tabús e paradigmas que fragmenta o conhecer e vivenciar arte.
Abraço!