domingo, 6 de abril de 2014

O Fazer/Pensar Arte Contemporânea no Ensino da Arte: ação performática O Peso Sem Água.

Imagem: Jailton Santóz

“Não há performance, sem performance.” John MacAloon

Por Jailton Santóz
Idealizado por Alexandra Moura,
Adelina Rebouças e Diana Magnavita.
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O Fazer artístico na contemporaneidade tem ganhado cada vez mais um distanciamento entre arte e matéria/ arte e objeto. Desde a influência da Pop Art no Brasil por volta década de 1960 que a nossa arte se aproxima de um conceitualismo adaptado às culturas predominantes. No início desta década prevaleceu o Abstracionismo Geométrico nas artes visuais, apropriando-se de formas geométricas, cores inusitadas e um tanto de racionalidade, como se o objeto da arte fosse necessariamente evidente em sua proposta expressiva, fazendo com que este fazer no Brasil tivesse uma característica própria em relação às produções externas.

Como reflexo desta prática imediatista, o ensino da arte nas escolas de ensino formal e não formal, mesmo após uma ou mais de uma década, privilegiou estas características no fazer artístico como um fator de grande relevância, substituindo o ensino da arte pelo ensino do desenho geométrico, pois esta seria uma abordagem mais “séria” e os conteúdos próprios da arte fluiria de forma fútil e sem valor. Sem dúvida alguma, as práticas utilitaristas do desenho geométrico no ensino da arte, conhecido como “Educação Artística” se deu por meio deste processo, compreendendo o fazer arte de forma a obter resultados, pensando prioritariamente numa arte servil e lucrativa.

Na contemporaneidade após as diversas transformações no ensino da arte, por parte da luta de arte/educadores, dos teóricos da área, do movimento Arte/Educação que as novas leis e parâmetros educacionais modelaram o ensino artístico a uma sistematização muito mais coerente e frutífera, fazendo com que o nosso ideal contemporâneo de fazer/pensar arte dialogasse com o seu ensino nas escolas.

Fazer/pensar arte contemporânea nas escolas é de extrema relevância para a arte/educação, compreendendo a real educação artística por meio do que realmente é arte. Não se podem ocultar as abordagens cognitivas sobre arte contemporânea conceituando-a previamente como uma aprendizagem inalcançável pela sua “complexidade”, mas propiciar formas de conhecer nas práticas pedagógicas que contextualizem a arte de antes e a arte de hoje, acreditando nas mudanças como lapidações, progressos, transformações.

Neste texto, procuro fazer um paralelo entre o ensino da arte e o fazer artístico contemporâneo, tendo como exemplo uma ação performática desenvolvida num curso de pós-graduação em Arte/Educação com três artistas, colegas de curso. Este trabalho trata-se de uma ação performática tendo como abordagem a consequência do desperdício de água, intitulado como O Peso Sem Água.

O Peso Sem Água surgiu de um desafio de transformar a matéria em discurso. O grupo formado por quatro artistas, três baianos e uma paulistana: Jailton Santóz, Adelina Rebouças, Diana Magnavita e Alexandra Moura encontrou algumas barreiras pelo caminho percorrendo a ideia desta transformação. Ao falar em propostas com garrafões de água, de imediato os códigos de ligações nos remeteram ao ideal de sair do mero contexto de garrafão de água a lidar com um discurso que a cada dia se torna mais preocupante na sociedade contemporânea, pois compromete a vida. Referimo-nos ao uso indevido da água ou mesmo os exageros do seu uso no cotidiano. Estamos gritando neste trabalho por conscientizações em relação ao que poderá se tornar o mundo – sem água. Repensamos dentre os lances de ideias sobre diversos fatores de mau uso da água do nosso dia-a-dia e foi refletindo nestes contratempos que pensamos em unir arte e protesto por meio de um discurso unindo conceito, corpo e ação.

Esta ação performática apropriou-se de instrumentos comuns como garrafões de água, pedras, papeis, folhas secas, tecido... Buscando na matéria o vômito expressivo da ação de chocar o espectador, fazer ruídos, gritos, suspense e silêncio. De convidá-los ao temor, de mostrar-lhes uma possível visão futura, de dar-lhes um peso... O PESO SEM ÁGUA.

Este trabalho é parte integrante da avaliação da disciplina de Laboratório de Arte-Educação do curso de especialização em Arte-Educação: culturas brasileiras e linguagens artísticas contemporâneas da Universidade Federal da Bahia, coordenado pelo professor Dr. Ricardo Barreto Biriba e ministrada pela professora Me. Elizabete Actis.

Tudo começou num discurso sobre o uso de garrafões de água. Pensando de que forma poderíamos explorar essa matéria e relacionar a uma produção artística. Pensamos em desenvolver uma instalação, levando em consideração o mais uma vez o olhar para a matéria, por um imediatismo à apropriação das artes visuais, porem as ideiam se amplificaram quando concluímos que seria uma ação performática, unindo artes visuais, movimento, encenação entre outros. Ao discutir o que seria posto nas garrafas concluímos que buscaríamos diversos materiais, representando as diversas formas de má utilização da água no cotidiano. O uso do tecido azul também foi uma escolha que fez alusão à água, dialogando com o azul dos garrafões. O tecido foi usado principalmente como um veículo de aprisionamento, de desconforto, de aperto, tornando os gritos e movimentos corporais agressivos um veículo de comunicação e expressão. O barulho da água utilizado na ação buscou despertar no espectador uma espécie de ponto de chegada, de alvo, de alivio, para a dor do peso que a todo instante gritou por água.

Em relação aos ensaios, tudo foi muito tranquilo. Como todo ensaio é sempre devocional, buscamos estar tranquilos e dispostos a errar e acertar. Nossas expectativas foram as melhores, a cada nova fase descobrimos novos caminhos para expressar com muita seriedade e criatividade o nosso trabalho. As relações interpessoais foram como se fossemos amigos de muitos anos, pois a energia foi muito positiva e acreditamos que a força deste fazer foi propícia a esta relação. Não teria sido possível desenvolver um trabalho de qualidade se o grupo não tivesse tido o comprometimento e a compreensão que teve em relação ao respeito a opinião do outro e abrir mão de suas individualidades. Houve conflitos, especialmente nos ensaios, quando as divergências de propostas foram à tona, mas a nossa unidade e profissionalismo foram suficientes para não ter deixado com que a emoção superasse a razão, buscando exemplificar diferentes formas de utilização dos recursos e propostas, levar em consideração que estávamos mesmo no ensaio e que tudo ali seria proveitoso. E assim chegarmos a um consenso em que todos participaram ativamente desde a construção teórica da ação performática ao momento de apresentação.

Antes do grande momento nossos corações estavam a “mil por hora”.  A chegada do público na sala em que foi feita a ação aumentava a nossa emoção, acreditando que faríamos um bom trabalho, depois de tantos ensaios e dedicação.

A ação foi responsável pelos olhares curiosos, dos possíveis questionamentos acerca do que estaria para acontecer, do estranhamento e da expectativa bem visível das pessoas que assistiram.

Partimos inicialmente da organização do espaço para o trabalho, tanto no que se refere ao local a ser apresentado, quanto a organização do corpo performático que foi formado pelos quatro artistas. A representação da fonte, foi vivenciada por Alexandra Moura, Jailton Santóz representou o público atento e curioso, Adelina Rebouças representou um obstáculo significativo na aplicação de força física e Diana Magnavita incorporou a dor do peso, aos berros e a irreverência de alguém que sente dor, que sente peso. O peso sem água.

Podemos dizer com toda certeza que foi uma experiência incrível. Tanto na relação de unidade recíproca, profissionalismo, quanto na experiência artística. Envolver códigos expressivos, protestar com ações criativas, sem dúvida alguma foi o melhor caminho a ter seguido ao longo da infinidade de possibilidades que poderíamos ter explorado.

Que se estabeleça cada vez mais o potencial do ensino da arte nas escolas, promovendo o fazer/pensar arte não como uma arte servil, mas como um recorte da cultura ampliadora de novos horizontes, de experiências e aprendizagens na formação humana e social das pessoas.

Agradecemos ao professor Ricardo Barreto Biriba pela iniciativa do curso de Especialização em Arte/Educação, a professora Elizabete Actis pela atenção, profissionalismo e aos nossos colegas pelo apoio e aplausos.








sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Contextos do Ensino da Arte na Bahia: a capoeira como manifestação cultural.



Por Jailton Santóz

A abordagem do ensino da arte no Brasil, na contemporaneidade visa o desenvolvimento cultural do educando para o exercício da cidadania, de forma crítica e consciente dos seus direitos e deveres na sociedade. De acordo com a mais recente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 – Parágrafo 2º: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover a educação cultural dos alunos.” Neste sentido, este texto resgata um breve relato histórico da capoeira na Bahia enquanto dança, luta e jogo, para falar de manifestação cultural baiana agregando ao ensino da arte em sua tríade educativa de produção, fruição e conhecimento, como elemento de aprendizagem relevante ao contexto sociocultural do educando baiano, buscando o ensino de sua própria cultura para entender o seu significado social, educativo, artístico e cultural.

Ana Mae Barbosa concebe o desenrolar do processo ensino/ aprendizagem em arte de forma triangular, inserindo o fazer, o ver e o contextualizar para que o entendimento sobre a arte na escola não caia na estética vazia originada pelo histórico imediatista da Educação Artística² na década de 1970, e que seja suprimida a visão preconceituosa de que tudo que é arte é meramente prático e não cognitivo.

Fazer arte está inerente à prática de criação, porem, sempre num viés teórico. Na sala de aula, esta abordagem busca uma direção para o desenvolvimento poético pessoal do aluno, para que ele compreenda o fazer arte como um mecanismo de expressão de valores, crenças, sentimentos e comunicação. Ver arte é usufruir arte, é analisar, criticar, compreender, associar, relacionar. É o momento da fruição de uma peça de teatro, dança, música e/ou artes visuais. Contextualizar arte é agregar conhecimento, é compreender a presença da arte nas diversas áreas do saber, como na História, Filosofia, Psicologia, Sociologia dentre os demais campos de aprendizagem em que a arte está inserida. Neste texto, eu me apropriei destas três premissas educativas em arte de Barbosa para o conhecimento prático, analítico e conceitual da capoeira, com base numa outra tríade abordagem relacionando a Capoeira Angola, Capoeira Regional e Capoeira Contemporânea na Bahia para uma degustação teórica adaptada ao que se pretende alcançar no ensino da arte, especificamente na Bahia, terra rica em cultura.

Este texto é um recorte de um artigo que desenvolvi como requisito para avaliação da disciplina de Diversidade, Identidade Cultural e Inclusão Social da minha Especialização em Arte-Educação: Cultura Brasileira e Linguagens Artísticas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia / Escola de Belas Artes, que em seu desenrolar discutimos acerca da diversidade, identidade cultural e inclusão social no contexto de unidade e particularidades (a totalidade e suas aberturas), contextualizando conceitos de linguagens, racismo, sexismo, movimentos sociais, africanidade, dentre estes a capoeira, como manifestação cultural e patrimônio imaterial do Brasil. O tema relacionado à capoeira foi desencadeado pelos professores da pós-graduação e a relação com a arte-educação foi adaptada por mim, levando em consideração a capoeira por ser arte, por ser educação e por serem as duas coisas ao mesmo tempo. Eu como arte-educador e artista baiano não teria como não falar sobre a capoeira enquanto registro cultural e artístico bem presente na Bahia. Nada seria mais conveniente para mim do que escrever sobre arte enquanto manifestação cultural, envolvendo a capoeira como um dos seus recortes de relevância significativa para o contexto da arte-educação baiana.

Segundo o Inventário Para Registro e Salvaguarda da Capoeira Como Patrimônio Imaterial do Brasil, realizado entre 2006 e 2007, a presença da capoeira no Brasil predomina nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Seu aparecimento no Brasil é justificado pela manutenção das tradições africanas praticadas pelos escravos desde o período anterior a abolição da escravatura. Carlos Eugênio Líbano Soares (1999) salienta que a capoeira não é apenas “uma prática cultural excludente de negros libertos ou livres, mas a uma tradição rebelde que tinha fortes raízes escravas... e ‘seduzia’ aqueles de outra condição social e jurídica, por sua maneabilidade e resistência”. Neste sentido a capoeira fica visivelmente inerente ao contexto da escravidão, distante de ser apenas uma dança, luta e/ou jogo meramente tradicionais dos povos africanos escravizados no Brasil.

A capoeira é considerada uma manifestação multifacetada pelos seus diversos vieses culturais, representados pela arte da dança enquanto prática de criação de movimentos corporais rítmicos, seguido de música, produzida por melodia e/ou canto. A ideia de luta enamora os sentidos de combate, rivalidade, oposição e concorrência. As habilidades físicas de gestual forte e resistente relacionados aos “golpes” dos braços e pernas evidenciam uma visão guerrilheira em que a arma é próprio corpo. Quando visualizada pela perspectiva de jogo, a capoeira ganha um aspecto semelhante ao de luta, em que ambos trazem como consequência ganho e perda, porem o termo “guerrilha” não se aplica, pelo conceito do que seja jogo. A ideia de jogo casa com o momento devocional que a capoeira também proporciona.

A relação da capoeira com momentos devocionais é expressa na proposta da Capoeira Angola, os sentidos de combate, oposição, força física evidenciam-se de forma mais explícita na Capoeira Regional. A Capoeira Angola tem uma característica mais lenta em seu ritmo musical, golpes jogados mais baixos e bastante malícia. Maria de Lourdes Siqueira (1998), em suas abordagens sobre a cultura do Candomblé, destaca aspectos de cidadania, liberdade e identidade vinculados à religiosidade. Neste sentido, identifico semelhança com a Capoeira Angola pela sua “dimensão cultural em sentido profundo representa um âmago sobre o qual se constroem processos de formação de pessoas e novas formas de organização social, e novos modos de saber e de viver em sociedade.”.

A Capoeira Regional tem uma característica mais peculiar ao sentido do combate, visando unir a malícia da Capoeira Angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são ágeis e severos, e as performances corporais da Capoeira Angola deixam de existir. O Inventário Para Registro e Salvaguarda da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Brasil acrescenta que “... a capoeira regional dará destaque à eficiência do combate marcial, misturando movimentos da capoeira antiga, conhecida como capoeira angola, com o batuque, e principalmente incorporando movimentos de ataque e de defesa de outras artes marciais, como o jiu-jitsu. Modificações que promoveram a capoeira regional como uma singular e eficiente arte marcial de origem brasileira.”.

A Capoeira Regional surge para buscar uma quebra com a ideia do capoeira marginal e vagabundo para compreender o capoeira como um atleta saudável e disciplinado.

Uma terceira “capoeiragem” é chamada de Capoeira Contemporânea, praticada com base em apropriações da Capoeira Angola e Regional que surge entre os anos 30 e 80 do século passado. “Esta modalidade ainda não possui um nome consensual entre os capoeiristas. Uns preferem chamá-la “capoeira contemporânea”, outros “capoeira de vanguarda”, e há ainda os que a nomeiam como “capoeira atual” ou, simplesmente, “capoeira hegemônica”. (INVENTÁRIO PARA REGISTRO E SALVAGUARDA DA CAPOEIRA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO BRASIL, 2007, p. 47).

Este texto trás como reflexão a valorização e ressignificação do ensino sobre a capoeira na escola enquanto produção cultural, por meio do ensino da arte, disciplina responsável pelo desenvolvimento cultural do indivíduo.

O processo da educação no Ensino Básico depende de diversos campos de aprendizagem, desde os conhecimentos da educação doméstica, que atribuo ao senso comum, até a aprendizagem escolar, que vinculo ao senso científico. A relação entre escola e família é um fator de suma importância para que a formação do indivíduo seja efetivamente cidadã, crítica e reflexiva na sociedade contemporânea.

A educação escolar é regida pela aplicabilidade teórica e/ou prática das áreas do conhecimento divididas entre Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias, Ciências Humanas e Suas Tecnologias, Ciências da Natureza e Suas Tecnologias e Matemática e Suas Tecnologias. Na área de Linguagens, especificamente, comportamos o ensino da Arte em todos os seguimentos da educação básica, de acordo com a LDB de 1996, com o objetivo de desenvolver a educação cultural dos alunos por meio da arte, ou seja, ensinar cultura enquanto arte desde o contexto sociocultural do educando até as demais culturas nacionais e internacionais. Neste sentido, o professor de Arte, residindo e ensinando Arte na Bahia, tem por premissa básica a integração fazer arte, ver arte e contextualizar arte, acolhendo às suas aulas os ensinamentos sobre a arte da Bahia que se desdobra em um universo de artefatos da produção material e imaterial de artistas e práticas da cultura baiana em que a arte está presente.

A capoeira é uma das manifestações artísticas do Brasil com marcos históricos significativos na Bahia. O termo se aplica ao conceito de arte por não ser apenas luta e jogo, em seu mosaico cultural encontramos a presença das linguagens artísticas denominadas de dança e música, que tem uma relevância macro nos atributos da capoeira, principalmente na Capoeira Angola. Neste sentido a capoeira ganha um aspecto criativo e propriamente artístico.

A relação da capoeira com a arte não se restringe apenas a dança e a música, quando me refiro estas duas referências a princípio, proponho uma relação com a Capoeira Angola, mas de modo geral é possível identificar também a presença da artes visuais e do teatro na capoeira.

Acredito numa relação da capoeira com as artes visuais no viés da construção plástica dos instrumentos musicais, por exemplo, o berimbau em seu contexto pictórico em que as cores e formas pintadas dão “vida” estética ao instrumento e expõe visivelmente a oferta de diversidade que a capoeira tem. As artes visuais de forma bem peculiar tem também esta característica de usar a estética, o visível para expor a sua mensagem. Seguindo esta ordem de pensamento consigo transpor uma coisa a outra. O teatro, que é a arte de representar e que compõe as artes cênicas juntamente com a dança e a arte circense está presente na capoeira pelo próprio ato cênico desta luta, representando mestres, capoeiristas e o público espectador. Outra característica teatral na capoeira é o ato da “apelidagem” dos pratricantes desta arte.

Sendo cultura relacionada à arte, a capoeira ganha um espaço na sala de aula por meio da arte-educação. O professor de Arte além de contextualizar a capoeira em seus aspectos conceituais, históricos, filosóficos e culturais pode agregar também as práticas de produção da capoeira na escola, promovendo encontros entre alunos e capoeiristas, ou mesmo internalizando o conhecimento prático e técnico da capoeira em academias específicas onde às aulas são oferecidas para uma ministração experimental da prática da capoeira. A compreensão da capoeira na prática é importante não apenas pela fixação da aprendizagem teórica, mas pela oportunidade de vivência nesta arte, sendo também para o educando uma experiência para a vida. Outra abordagem muito importante acontece no momento da fruição da capoeira, ou seja, a apreciação crítica e reflexiva desta prática, estimulando a percepção do aluno para cada cena, cada gesto, expressão, diferenças e semelhanças. Em sala de aula é possível desenvolver este fruir por meio de mostras de vídeos, apreciação de fotos e tutoriais, numa situação extraclasse, visitas a escolas de capoeira ou mesmo as rodas ao ar livre pode ser uma ótima experiência de aprendizagem.

Um dos maiores descasos que temos no Brasil, especificamente na Bahia é o semi-analfabetismo cultural de grande parte das pessoas. Numa pequena pesquisa que fiz ano passado e faço todos os anos nas turmas em que leciono na educação básica, apenas vinte e cinco alunos de nove turmas com cerca de quarenta a quarenta e cinco discentes cada, visitaram um museu alguma vez na vida. O que mais me surpreende não é apenas este lamentável número de pessoas, mas o notável desinteresse por parte dos alunos em conhecer a arquitetura histórica da cidade, as igrejas de estéticas barrocas e rococós, os centros culturais, teatros, exposições de artes visuais nas diversas instituições de cultura e patrimônios materiais e imateriais de um modo geral. Outra situação é quando perguntamos a alguém da nossa família ou até mesmo aos nossos amigos “o que é arte para você?” E geralmente as respostas se restringem a arte como atividade manual, decoração, criatividade e liberdade apenas, esquecendo a dimensão teórica e cognitiva que a arte tem no sentido da pesquisa e da busca de sua proposta poética. O senso comum sobre a arte, na produção artística ou no seu ensino, ainda no Brasil é privatizado à ideia de inspiração, intuição e rebeldia. Neste sentido, a escola se transforma em uma plataforma deste senso comum quando o professor de Arte não transmite e nem respira bem a disciplina no seu ofício, deixando de revelar por sua vez, o real papel da arte na educação. Outro questionamento curioso é “cite um exemplo de uma obra de arte” e em muitos casos, de imediato, a resposta vem limitando ser obra de arte as pinturas e esculturas, marginalizando as letras de músicas, os poemas e os roteiros de filmes enquanto obras de arte.

O conhecer cultura e arte em sua essência ainda me parece estar longe da realidade intelectual dos brasileiros, seja por ignorância ou mesmo pelo desmerecimento ou desprestígio dos cargos que a cultura e a arte ocupam neste país, e é dever do Poder Público e dos profissionais do ensino da arte esta transformação social.

O ensino da arte é um recorte do conhecimento sobre cultura e cabe ao professor de Arte conhecer a cultura relacionada à arte nos diversos aspectos de sua licenciatura, em artes visuais, música, dança ou teatro.  Se arte-educação significa epistemologia da arte, as práticas de ensino de cada professor de arte deve desenvolver uma epistemologia específica de acordo com a sua formação, e é importante sempre estabelecer relações interdisciplinares com as diversas linguagens artísticas e as diversas áreas do conhecimento. A disciplina de Arte tem os seus conteúdos próprios e tem também diversas possibilidades de diálogos e interfaces com outros campos de aprendizagem. O bom desempenho nas aulas de Arte dependerá muito mais do professor propositor, do que qualquer outro personagem pedagógico.

Que se mantenha viva a chama do coração dos arte-educadores deste país, que acreditam e sonham com mudanças, e lutemos por esta causa pois ainda há um caminho longo pela frente.

Obrigado pela leitura e até aproxima discussão!




domingo, 15 de dezembro de 2013

Uma Releitura da Obra de Rubem Valentim: Jailton Santóz e seu desenvolvimento poético nas artes visuais.

                                                                                  Sem título/ acrílica sobre canson/ Jailton Santóz

Por Jailton Santóz


Este texto tem por inspiração a reflexão da linguagem plástico-visual-signográfica de Rubem Valentim em seu “Manifesto Ainda que Tardio”, artigo no qual revela sua identidade artística por meio de uma estética fundamentada de códigos e de signos expressivos da cultura afro-brasileira.  Nele, eu, Jailton Santóz ganhei inspiração para falar do meu trabalho como artista, me apropriando da linguagem instrumentalizada de Valentim, desenvolvendo um relato de experiências e maturação artística em minha poética visual que tem como estrutura conceitual e estética os fundamentos do olhar para as fragmentações do corpo feminino, dissociado especificamente de condições afro-brasileiras, porem ao mesmo tempo interligado a um gênero, diversos signos e as diversas etnias.

Minha poética está diretamente inerente à sexualidade. Sexualidade pelo prazer e pela estética estimuladora da movimentação do olhar sensual por meio de partes do corpo da mulher. A alusão ao sexo leva em consideração às representações destacadas na obra em paralelo à sensibilidade de cada espectador que pode vir ao contexto da sensualidade, consequente do contínuo e matemático uso de curvas, ondulações e formas. Quando me refiro a estas identificações etnográficas e etnológicas exponho a minha visão enquanto espectador de minha própria obra, mas consigo subsídios a mais quando o olhar é do público. Esta experiência já aconteceu algumas vezes nas exposições que participei e realmente a realidade é abstrata por se tratar de contribuições tão pessoais, de olhares subjetivos a cerca dos elementos formais e das mensagens cognitivas expressadas nas obras.

As pinturas, relevos e esculturas relacionadas ao meu trabalho plástico/visual não nasceram prontas, assim como todo artista visual que se aprimora com o tempo, eu passei cerca de onze anos de trabalho aleatório em diversas técnicas e apropriações para chegar a um consenso estético e filosófico da minha proposta expressiva, apesar de que desde a infância representar o nu feminino sempre foi uma prática de prazer para mim. Morava em uma das ruas da cidade de Salvador na Bahia em que a ladeira desta rua ganhava sempre uma nova aparência até o momento em que a chuva chegava e apagava os desenhos a giz feitos por mim. Pessoas passavam e quando não paravam para olhar, caminhavam olhando, os desenhos de “mulher nua” feitos por uma criança que somente depois de ingressar na graduação, na fase adulta, reconhece que o gozo em arte está nas possibilidades de expressar o que sente e pensa. Concluindo que fazer arte é a satisfação de um desejo que resulta em fazer, ver e prazer. 

As descrições etnográficas das minhas obras se destacam pelos contrastes pictóricos do preto e branco e suas derivações cromáticas, pelas curvas acentuadas presentes em todas as obras, pelo volume causado pelos altos relevos produzidos, pelo movimento circundante aleatório que não expressa início, nem meio e nem fim, pelo número matemático quantitativo de representações ou unicidade representada em seu todo.  Minha obra é sempre o todo e sempre partes do todo.

Os principais conceitos etnológicos do meu trabalho refere-se a um gênero: feminino, a signos e a etnias. A representação feminina faz alusão ao meu vínculo maternal afetivo, eu que tive uma mãe soberana, os signos expressados pela coletividade expressam uma dor, a dor da ausência e da solidão, o movimento nas obras é como um relógio que marca o tempo, mas não diz quando este tempo começou e quando irá terminar, o uso do branco (cor e não pele) ou preto (ausência de cor e não pele) visa uma representação étnica não diretiva, mas potencializada para possibilitar o olhar adverso para representações humanas de forma universal, sem dar qualidades e identificações, o objetivo é esclarecer e/ou confundir.


REFERÊNCIA


VALENTIM, Rubem. Manifesto Ainda Que Tardio. Salvador, p. 1-2, jan. 1976.











quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Contribuições da Gestalt Para a Fruição da Imagem no Ensino da Arte

Imagem: Jailton Santóz
Por Jailton Santóz
A Gestalt, que é um dos ramos da psicologia que tem uma função muito importante em relação ao desenvolvimento da percepção humana por meio de imagens em que seu ponto chave é chamado de “Insight”, que se define pelo modo como vemos, percebemos e decodificamos as especificidades das imagens e o que elas representam. Este foi um dos temas trabalhados na disciplina “Fundamentos Psicológicos da Educação” na Especialização em Docência do Ensino Superior neste mês de setembro de 2013. Me apropriei das relações estéticas da Gestalt para um diálogo em arte-educação e foi uma experiência muito interessante.
Ao me deparar com as explanações em sala de aula, não tive como não relacionar os objetivos da Gestalt (abordagens que eu já conhecia desde a graduação) com a operacionalidade da fruição da imagem no ensino da Arte. A final meu maior objetivo nesta especialização é a preparação para atuar na formação de arte-educadores, e de forma muito positiva tenho conseguido fazer alusões significativas do processo ensino/aprendizagem em arte com as diversas disciplinas que tenho cursado. Tenho atingido bons resultados e visibilidade perante os professores e colegas de turma.
No ensino da Arte nos deparamos com a apreciação da obra de arte em uma das suas abordagens. O objetivo desta tarefa é proporcionar ao aluno um desenvolvimento crítico em relação ao conhecer arte por meio da fruição da obra de arte. Em especial nas artes visuais nos deparamos com a leitura estética de imagens como: pinturas, desenhos, esculturas, fotografias, instalações... Neste sentido procuramos aguçar a percepção do aluno em relação ao que ele vê em nos elementos formais e subjetivos na imagem por meio de insights. Nesta experiência desenvolvemos a educação do olhar para o que vemos em todos os aspectos visuais, não apenas nas obras de arte, mas em tudo que é visual ao nosso redor. Fruir arte é usufruí-la. É desfrutá-la. É a experiência da apreciação, do olhar perceptivo, é o estágio de contemplação em que o aluno desprende suas imaginações para decodificar, relacionar e compreender o que vê de forma figurativa ou abstrata.
O ponto crucial deste pequeno discurso é deixar bem claro que é possível e muito positivo poder relacionar outras áreas do conhecimento ao ensino da arte. A disciplina de Arte em si possui uma riqueza muito grande em relação aos seus conteúdos e abordagens, porem é construtivo ampliar horizontes buscando paralelos entre arte e mundo. Nesse sentido a educação em arte além de mostrar a sua relevância na construção mental e sensível das pessoas, contribui também para o olhar sobre as coisas, para a percepção do que vemos, como vemos e de que forma é possível abstrair e/ou  relacionar esse olhar. Embora Elliot Eisner, exponha o seu pensamento a cerca do isolamento da arte na educação para que ela fique cada vez mais específica e independente, eu penso que tudo tem seu espaço, tempo e lugar. Tudo é muito relativo. O isolamento é preciso, é claro, mais ainda no Brasil. Conhecemos o histórico do ensino da Arte e falar desse isolamento é imprescindível para que tenhamos cada vez mais o retorno esperado e merecido em relação à disciplina, mas quando construímos conhecimento em cima do que já é cognitivo, o intelecto é sempre mais rico. Nesse sentido, a disciplina de Arte jamais perde o seu foco, muito pelo contrario, os seus saberes passam por um processo de ampliação e o conhecer arte se torna muito mais amplo.

Obrigado pela leitura e até a próxima discussão!



segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Projeto Um Dia Com Arte:

Centro Municipal de Arte e Educação Mário Gusmão 

Fotografia: Agnaldo Júnior
Por Jailton Santóz
Venho partilhar mais uma experiência em arte que vivi no período da minha licenciatura, que foi exatamente no segundo semestre de 2009. Tempo em que estava no quarto semestre, já havia cursado disciplinas pedagógicas e estava tendo o meu primeiro contato em sala de aula como professor no estágio de regência pelo IEL – Instituto Euvaldo Lôdi vinculado à Secretaria de Educação do Estado da Bahia no Colégio Estadual Oliveira Brito, localizado bairro de Boca da Mata / Cajazeiras VIII em Salvador. Lembro-me da sensação desafiadora que se apresentava para mim naquele tempo. Eu não tinha ainda uma identidade docente e só depois dos primeiros momentos de explicações, de esclarecimento de dúvidas, de exercícios de criação artística que entendi de fato o que estava acontecendo.
Minha turma na faculdade era composta por cerca de 12 alunos do curso de Licenciatura em Artes Visuais e parte destes colegas já estagiava em escolas, e sempre que tínhamos oportunidade falávamos sobre nossas experiências em sala de aula, fazendo relações dos nossos estudos com nossas práticas de ensino-aprendizagem nos estágios.
Meu roteiro diário era enfrentar a faculdade pela manhã, seguir para a escola à tarde, chegar em casa à noite, cansado, fazer os trabalhos da faculdade, corrigir atividades dos alunos do estágio e só depois de tudo isso ir dormir para enfrentar um novo dia cheio de situações cansativas, mas sempre prazerosas. O percurso da faculdade para o estágio seguia da Estação da Lapa à Cajazeiras VIII, o ônibus passava por uma instituição de ensino que no meu primeiro olhar, me chamou a atenção... Um misto de curiosidade e ansiedade me fez ir mais cedo para a escola, descer do ônibus e conhecer a Sra. Maria Luiza do Centro Municipal de Arte e Educação Mário Gusmão. Eu havia planejado uma série de perguntas para fazer, procurando saber o que era a instituição, como funcionava, o que já foi feito e qual o tipo de atividades realizadas... Maria Luiza, que era a coordenadora esclareceu minhas dúvidas e logo em seguida falei sobre o meu principal objetivo ali, que era realizar um projeto educativo em arte juntamente com meus ex-colegas da faculdade, que atingisse o público alvo da instituição à experiência de criação visual em arte a partir de relações com mostras de vídeos de curta duração, contações de histórias e fruições musicais. Nesta perspectiva, combinamos uma data para apresentação do projeto que possibilitaria a realização do projeto.
No dia seguinte na faculdade, falei sobre o C.A.E.M.G. para os colegas, que ficaram curiosos e apresentei algumas ideias que tinha em mente para a realização de um projeto nesta instituição com crianças e adolescentes. Reuni um grupo de pessoas interessadas e construímos o projeto de maneira eufórica claro, até por que estávamos tendo uma oportunidade maravilhosa de colocar em prática o que estávamos aprendendo numa situação não mais acadêmica, mas profissional. Com medidas logísticas, calculáveis pensamos no tempo que iríamos precisar para a concretização de todas as propostas que passamos a levantar. Materiais, custos, transporte, função de cada participante entre outros fomos centralizando e buscando ser políticos e democráticos sempre. Lembro que houveram alguns contratempos em se tratando de opiniões, sugestões entre colegas, mas no final deu tudo muito certo. Não precisamos nem gastar muito com materiais por que parte deles foram doados pela nossa querida ex-professora e coordenadora Lêda Margarida Souza, a quem devemos reverência e respeito pelo que ela significou e significa para nós.
Ainda na faculdade, tivemos cerca de mais quatro ou cinco reuniões para a elaboração e conclusão do projeto em uma das nossas salas de aula e fechamos as nossas propostas criando até o nome do projeto. “Um Dia Com Arte”, este foi o nome de batismo dado por Erika Campos, já que a nossa intenção seria como um circo que chega à cidade trazendo alegria, aprendizagem e arte, o nosso desejo era justamente este, e desta forma fechamos com oito horas de projeto, seguindo quatro horas para os turnos matutino e vespertino, escalando por volta de cinco colegas por período além de mim que precisei ficar o dia inteiro.
Numa manhã de sábado ensolarado, de frente para a praia da Amaralina em Salvador, chegamos ao C.A.E.M.G. num clima de alegria, de comemoração, antes mesmo de findar nossos trabalhos, pois sentíamos que tudo iria ocorrer bem e somente pelo fato de estarmos a tão pouco tempo de realizar o nosso primeiro projeto, nossa primeira experiência coletiva independente, o motivo da comemoração fazia sentido mesmo.
Lembro-me que ao entrarmos na instituição fomos nos apresentando aos gestores, professores e em seguida aos alunos... Muita coisa foi improvisada, mas de forma alguma deixamos a desejar em algum aspecto. Nossa colega Denize Viana iniciou as apresentações fazendo uma atividade de alongamento e meditação com música, Elizabete Guimarães com seu jeito espontâneo de ser criou formas de comunicação por meio de uma linguagem humorística, Claudinalva Guimarães contribuiu muito nas contações de hisótórias, Francine Peróliv, Mara Lima e Margareth Abreu tornaram mais dinâmicas as oficinas de artes visuais após a minha mostra de vídeo de curta duração “Cidade de Salvador”. Márcio Prado nos ajudou de forma geral e principalmente nas questões técnicas apresentadas, Elaine Bispo fez o seu papel de mediadora nas atividades e Agnaldo Junior (convidado) registrou por meio de fotografias e filmagens nossos melhores momentos. E assim resumidamente realizamos nossas atividades, concluímos tudo o que havíamos planejado e seguimos para nossas casas com um abraço, um muito obrigado de cada aluno da instituição e a sensação de missão cumprida e abertura para novas caminhadas pela vida em arte-educação.
Concluímos que a arte na educação não está limitada à sala de aula e tão pouco ao ensino regular. Independente do ambiente ou da nomenclatura do processo de ensino-aprendizagem, o ensino de arte viabilizado pelas diferentes abordagens que envolvem criação e cognição, promovem a epistemologia da arte. Arte-educação significa o ensino de Arte num ponto de vista crítico, consciente do conhecer cultura por meio da aprendizagem da arte em suas múltiplas abordagens teórico-práticas. A educação e a arte serão sempre verdadeiras aliadas no processo de aprendizagem desde quando o professor reconheça este valor e saiba distribui-lo mostrando o porquê conhecer arte e qual a sua relevância na formação humana das pessoas.
Agradeço à professora Lêda pelo incentivo, à coordenadora Maria Luiza pelo apoio, a Agnaldo Júnior pela força, amor e presença na minha vida e a todos os ex-colegas que contribuíram para o sucesso desta realização. Quero dizer que a presença e participação de todos foram peças fundamentais para hoje dizer que fizemos um bom trabalho a ponto de jamais esquecer o quão significativo foi esta experiência para a nossa formação como arte-educadores e como seres humanos.

Obrigado pela leitura e até o próximo texto! 

Fotografia: Agnaldo Júnior

Fotografia: Agnaldo Júnior

Fotografia: Agnaldo Júnior

Fotografia: Agnaldo Júnior



segunda-feira, 29 de julho de 2013

XXIII- CONFAEB: Congresso Nacional da Federação dos Arte/Educadores do Brasil.



Entre 3 e 6 de novembro de 2013 em Ipojuca, Porto de Galinhas - Pernambuco. 


Tema: ARTE-EDUCAÇÃO NO PÓS-MUNDO.

sábado, 27 de julho de 2013

Curso de Capacitação Profissional: A Abordagem Triangular na Formação Docente em Arte na Bahia


                                                              Em breve em Iraquara- BA:

Curso de Capacitação Profissional para professores que lecionam Arte no Ensino Básico.
Em parceria com a Prefeitura e Secretaria de Educação Municipal de Iraquara, ministrarei provavelmente em agosto ou setembro deste ano este curso que pretende configurar o ensino de Arte das escolas municipais da cidade a um eixo sistemático produtivo, apreciativo e conceitual, baseado nos princípios metodológicos da Abordagem Triangular criada por Ana Mae Barbosa. Centralizando assim um processo de ensino-aprendizagem em Arte mais consistente e não apenas manual sem correlações cognitivas.

Serão disponibilizadas 30 vagas.
O curso terá carga horária de 15h.
Com certificado e nota.

Em breve divulgarei a data com mais exatidão.
Abraço a todos!


terça-feira, 23 de julho de 2013

AVE- Artes Visuais Estudantis: contraste de ideologias.

Fotografias: Jailton Santóz (aluno do 1º Ano F. Vespertino/ oficina do AVE no CEMTL)

Por Jailton Santóz
Nesta semana será realizada a exposição de obras do AVE – Artes Visuais Estudantis no Centro Educacional Manoel Teixeira Leite em Iraquara-BA. Este projeto acontece desde 2008 nas escolas estaduais de toda a Bahia. O projeto da Secretaria de Educação do Estado da Bahia em parceria com o Poder Público tem por objetivo gerar oportunidades para os alunos do Ensino Fundamental, Médio e EJA- Educação de Jovens e Adultos de todos os turnos, possam além de mostrar sua criatividade a partir de uma obra de arte visual, também concorrer a prêmios de primeiro, segundo e terceiro lugar, sendo que o primeiro lugar além do prêmio da escola concorrerá também com as demais escolas das DIRECs – Diretorias Regionais de Educação na segunda fase do projeto e se vencer novamente será submetido a uma seleção estadual na cidade de Salvador por meio de uma nova exposição para o prêmio final. Apesar de não ser característica da disciplina de Arte, selecionar quem é melhor, mergulhei com os alunos no projeto buscando o olhar para a experimentação poética e singular de cada um deles.
Estamos desenvolvendo na escola as oficinas de criação de desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e instalações com materiais específicos e recicláveis em uma das salas que improvisamos por que infelizmente ainda não há um espaço reservado e propício para este tipo de trabalho no colégio. Por uma medida necessária a direção da escola se sensibilizou a partir do que já foi desenvolvido nas oficinas em relação às produções dos alunos e na prática percebeu que a existência de um espaço para criações em arte realmente fará uma diferença grande no que tange ao desenvolvimento sensível, estético e cultural dos alunos, não apenas no período de projetos, mas durante todo o processo de ensino-aprendizagem na parte prática da disciplina de Arte, sendo desta forma sem fins seletivos e sim experimentais.
Estou muito feliz, não apenas pela sala de arte que será organizada, mas principalmente pelo bom desempenho dos alunos ao se comprometerem até nos turnos em que não estudam na escola para concluir seus trabalhos devido ao pouco tempo que temos para montar esta mostra.  Só nós sabemos a dificuldade que foi para conseguir comprar os materiais que não tinham na cidade, coletar materiais recicláveis e pôr ordem na casa para que as coisas caminhassem bem, desde o esboçamento da obra até a limpeza dos pinceis, godês e paletas de cada turno.  
Sou totalmente favorável ao incentivo à criação de arte nas escolas, ONGs, museus, espaços culturais ou em qual quer que seja o lugar. Em momentos como esse, me realizo como profissional e sempre sinto uma energia muito positiva no processo de criação com os alunos, porem sou contra a seleção de arte/ escolha de qual o “melhor” trabalho. Penso que a arte deve existir por um meio sensível, por uma ideologia singular de cada pessoa ao buscar ferramentas visuais, literárias ou musicais como um veículo expressivo, comunicativo e apreciativo. Assim como as pinturas rupestres da Pré-História que não precisaram de seleção para existir enquanto arte. Vejo as produções artísticas como elementos únicos e insubstituíveis que não precisam de aprovações do olhar humano para se tornarem arte e ter a sua beleza, seja estética ou conceitual, a final o ideal de beldade está no gosto de quem vê de uma maneira muito particular.
Não estou fazendo uma crítica ao AVE especialmente, me refiro a seleções, salões e editais de artes visuais em geral... Que em sua maioria buscam propostas engessadas de arte contemporânea em suas escolhas, limitando o universo sensível dos artistas a uma ideia de arte imaterial.
Gosto de arte contemporânea, meus trabalhos de arte em sua maioria se baseiam numa visão mais conceitual e cerebral do que estética. Não desmereço de forma alguma quem se apropria desta tendência em suas obras, muito pelo contrário quero valorizar o contemporâneo e tudo o que o homem desenvolveu em arte até hoje e não somente dar ênfase ao que é atual e deixar para trás a raiz do que temos no cenário artístico grego, barroco, renascentista, realista, modernista... Penso numa produção de arte com uma riqueza cumulativa e não apenas temporal e tendenciosa.
Não havia escrito nada antes sobre o AVE ou mesmo sobre seleções de artes visuais por que sentia que se tratava de algo muito delicado e seria necessário um embasamento coerente para falar sobre o assunto. Desta vez ousei arriscar e falar um pouco sobre o que penso, e é claro que sempre amadurecemos outras ideias, outras formas de ver e pensar. No entanto vejo que minhas palavras neste texto busca uma reflexão construtiva para que a produção de arte não se perca influenciadamente na tendência atual e busque ser mais livre ao desejo de cada artista em suas criações.
Obrigado pela leitura e até a próxima discussão!










quinta-feira, 6 de junho de 2013

Arte Contemporânea no Senso Comum: estranhamento poético.


Técnica: Aquarela sobre canson. Sem título. Autor: Jailton Santóz

Por Jailton Santóz

“O artista visual contemporâneo é um propositor teórico que se apropria da prática da imagem para vomitar sua essência poética.”
Um dia na escola conversando com um professor de História falávamos sobre definições de arte contemporânea a partir do que é mais explícito em uma produção de arte visual na atualidade. Ele me falava a cerca de suas dificuldades de interpretação do que na maioria das vezes é implícito na obra por ser uma arte conceitual, cerebral em que a proposta expressiva não é o objeto pronto em si mas está no objeto pronto afim do despertar do espectador às sensações, relações e conceitos. 
Indo adiante no debate com o colega de profissão percebi que suas indagações se direcionavam a uma ideia de arte enquanto ideal de beleza, enquanto um padrão estético estereotipado como belo a partir do que lhe parecia agradável aos olhos. Este fato ainda é grande maioria no Brasil. O conhecer arte em sua essência ainda me parece estar longe da realidade intelectual das pessoas, seja por ingonrância ou mesmo pelo desmerecimento ou desprestígio do cargo que a arte ocupa neste país.
Num outro dia conversando com um aluno do Ensino Médio falávamos sobre a seleção do AVE – Artes Visuais Estudantis (projeto do Governo do Estado da Bahia / Secretaria de Educação que seleciona e premia obras de artes visuais de alunos) e ele me passava suas ideias de criação a serem  projetadas numa tela e disse: “Professor, eu quero fazer uma paisagem, algo que seja bem bonito...” Concordando com seu desejo eu respondi que iriamos iniciar as oficinas e que neste tempo ele amadurecesse sua proposta e logo começaríamos o processo, porém o universo das artes visuais não se limita em pintura em tela, pois existe uma gama de possibilidades / materiais que podem ser explorados. Pintar em tela é incrível, é mágico, de forma alguma inferiorizo esta técnica, porem existem possibilidades de criação tão interessantes quanto esta. Aproveitei a situação para falar um pouco de arte contemporânea e de maneira bem sucinta levantei algumas características imateriais / poéticas da arte pós-moderna. Ele observando seriamente e enrrugando as sobrancelhas me pareceu descontente no início, mas logo começou a interagir e concordar com o que eu explanava. A intensão era justamente esta, o desequilíbrio para o conhecimento.
Que fique bem claro que a arte contemporânea não interfere ou influencia na criação de ninguem, ela vem somar, vem criar subsídios, trazer novas e diversas formas de criação. Ela confirma ainda mais que arte não é uma simples produção humana a  meros fins decorativos, mas é também cognição.
 Na hora da decorar da sala de casa por que a maioria das pessoas ainda hoje preferem as pinturas que retratam flores, vasos, pássaros, paisagens...? Sem querer desmerecer qualquer tipo/tendência artesanal ou artística mas, por que não uma instalação feita de água, terra e fibra? Porquê o ideal de beleza ainda se restringe ao que é predominantemente “bonitinho”, porquê as pessoas enfeitam suas casas imaginando a reação de quem chega, o que  vão achar da aparência, do que é comum. O comum não acresce em nada! O comum ajuda a manter o hoje, o agora impedindo o amanhã e o depois seja na arte ou em qualquer campo.
A arte contemporânea vem causar o desequilíbrio, a desestruturação, a abstração da visão de mundo das pessoas. Ao mesmo tempo em que ela gera discussões dos mais diversos temas, nos trás também um “novo” conceito de arte, uma nova significação do que é belo, bom e agradável. 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Professor de Arte é Artista?


Fotografia: Maíra Amaral (Colégio Municipal localizado no Vale do Capão- Palmeiras/BA)

Por Jailton Santóz

Não necessariamente. Começaremos esta discussão respondendo a pergunta em questão. Professor de Arte nem sempre é e/ou precisa ser artista. É bom que seja, mas os objetivos da arte na educação é que o profissional da área saiba conduzir e mostrar o caminho ao aluno para a experimentação criadora, não para formar artistas, mas para fazer com que o aluno vivencie o conhecer arte a partir de experiências práticas nas artes visuais, música, dança e teatro, aprecie criticamente poéticas pessoais, produções de arte feitas ao longo do tempo e conheçam cognitivamente o percurso da arte na história dentre seus movimentos, tendências e mudanças da era primitiva à contemporânea.
O conhecer arte enquanto recorte da história e da cultura deve ser guiado pelo professor. É importante que o professor tenha vivenciado práticas em arte para que sua didática seja mais flexível, seja mais rica tecnicamente e artisticamente. Quando o professor de Arte também é artista, cria-se uma referência a mais em sala de aula, na abordagem da fruição artística os alunos tendem a fazer uma associação mais próxima entre arte e produtor de arte do que na distância física que as demonstrações de obras de Da Vinci, Picasso, Duchamp causam, por exemplo. Além disso, o professor/artista consegue se familiarizar de forma mais significativa com a experiência de produção de arte e certamente não errará na receita em se tratando da utilização técnica de algum material por conta da prática em si ou mesmo em criar algum suporte, algum meio de apropriação para as criações.
Sempre que preciso criar alguma ilustração no quadro referente a alguma abordagem nas minhas práticas em sala de aula, ao criar a imagem sempre escuto o retorno dos alunos nas conversas entre si. “Olha! O professor sabe desenhar, ele é artista!”, “É claro que ele sabe desenhar, afinal ele é professor de Arte né?” Questões como esta nos certificam ainda mais de que o arte-educador precisa ter esse domínio prático, que seja pelo menos técnico. Ser professor/artista é no mínimo facilitador da aprendizagem. Essa problemática transcorreu em minha mente a partir das fragmentações de vivência prática em arte que os cursos de licenciatura da área oferecem. Posso falar especificamente da minha experiência acadêmica que deixou a desejar nesse sentido. O desenrolar das disciplinas práticas sempre foi muito rico nas oficinas de criação, porem eu senti falta de uma vivência mais quantitativa, a ponto de ter tido contato com técnicas que tive que buscar a fora em cursos de extensão durante a graduação.
Para melhor esclarecimento da nossa proposta em primeiro lugar o que é ser professor? O que é ser professor de Arte? O que é ser artista? E o que é ser professor/artista? Questões mais específicas como estas determinam com mais clareza a resposta para nosso questionamento neste texto.
Ser professor em primeiro lugar é saber lhe dar com gente. O professor além de ser um transmissor de conhecimento, precisa conhecer e saber mediar o conhecimento, saber usar estratégias para as situações adversas da sua prática. Não apenas no que diz respeito ao contato com os alunos em sala de aula, mas o contato com a comunidade escolar no seu todo.
O professor de Arte, dotado de conhecimentos pedagógicos que são universais aos licenciados das diversas áreas de formação é também um mediador que além de dominar a prática docente precisa conhecer arte em sua essência e saber transmiti-la a ponto de levar os alunos à experiência desse conhecimento tanto no que se refere às teorias da história e crítica de arte, mas também aos experimentos práticos, as vivências sensíveis de produção e fruição de arte. Ser artista envolve prioritariamente a sensibilidade, a exploração, apropriação e a poética pessoal, seja nas artes visuais, na música, na dança ou no teatro. Segundo Karl Marx, a arte existe por que o homem sente o mundo, ou seja, a educação dos sentidos que permitiu a existência da arte. Para Platão arte e o artista são imitadores da natureza, Aristóteles afirma que não, que arte não imita a natureza, mas ela é a própria natureza.
O professor/artista é um facilitador da aprendizagem em Arte. É um provocador de sensações e propositor de novas ideias. É aquele que desestrutura e desequilibra a sala de aula para sair da mesmice e vivenciar o sensível. O professor/artista não existe simplesmente para decorar a escola em tempos festivos, mas é aquele que conhece um tanto a mais, que ousa e que usa, experimenta sabendo que pode não certo, porem o final de alguma forma é sempre proveitoso. Qualidades como estas se tornam razões a mais para que o ensino de Arte no Brasil seja ministrado por professores que sejam no mínimo licenciados na área. Se o professor não artista pode se deparar com alguma dificuldade no seu percurso, mais ainda quem não tem formação adequada. Que essa cultura no Brasil deixe de existir, não apenas na disciplina de Arte, mas em todas as áreas que são ministradas por professores com formação diferente, por que os nossos alunos que são os nossos filhos, netos, sobrinhos, primos precisam de uma aprendizagem consistente e não fragmentada.
Obrigado a todos e até a próxima discussão!


terça-feira, 23 de abril de 2013

Arte Moderna e Pré-Histórica na Bahia: um estudo sobre as pinturas rupestres de Iraquara- BA / Chapada Diamantina.


Fotografia: Jailton Santóz

Por Jailton Santóz

De acordo com a história da humanidade, o homem produz arte desde os tempos mais remotos, por volta de 30.000 anos a.C. aproximadamente, na era paleolítica em que seu veículo de comunicação e expressão estava vinculado a criação de imagens, de códigos expressivos utilizando as paredes das cavernas em que habitavam como suporte. Misturavam vegetais, gordura animal dentre outros recursos improvisados para a pigmentação de seus trabalhos “artísticos”, as chamadas pinturas rupestres. Tempos depois as descobertas, as experimentações e as mudanças começam a acontecer e cada vez mais o homem passa para um plano superior dando um novo formato a vida. A arte enquanto manifestação humana e como uma dessas experiências ganha também novas faces em sua práxis, na sua maneira de falar por si só, no seu conceito e na sua essência.
Na modernidade, presenciam-se por meio dos fatos comprovados as grandes evoluções, as grandes descobertas a partir do que a história registrou e registra a todo instante. Assim a arte, sendo ela produto da produção humana caminha junto a essas fases, trazendo uma nova estética, uma nova perspectiva, uma nova cor, uma nova definição. A arte moderna surge como uma bomba de um movimento que explodiu fazendo acontecer produções e conceitos na arte de forma mais livre, mais expressiva, cerebral e poética. Falar sobre esse processo requer no mínimo um bom embasamento teórico sobre o percurso desse veículo de expressão e comunicação, é preciso conhecer como e por que a arte chega a este formato. Mais complexo ainda é relacionar, dialogar, criar paralelos entre a mesma linguagem em tempos distintos, em propostas distintas, ou seja, conhecer e reconhecer a arte desde quando nem o próprio homem enquanto produtor de arte sabia o que eram as suas criações nas rochas e o porquê dessas execuções até a um plano de totalidade em aberto porem de riqueza teórica, cognitiva e não apenas práticas em relação ao arregaçar as mangas e mover tintas e pinceis.
A arte pré-histórica e a arte moderna vem confirmar cada vez mais o porquê da essência do homem, vem dizer que ela é a natureza quando se inclui na manifestação do ser humano enquanto parte da desta natureza sendo ela a própria natureza humana.
Este diálogo pretende não apenas abordar as situações históricas da arte primitiva na Bahia na cidade de Iraquara - Chapada Diamantina, mas também criar vínculos estéticos, poéticos e conceituais desses achados ancestrais em paralelo ao que se propõe na arte moderna brasileira, valorizando a arte em sua forma plural, multifacetada e também em seu conceito universal enquanto produto da produção humana.
Até o momento os registros feitos até hoje em minha pesquisa aqui na cidade apontam um valor quantitativo e qualitativo mais elevado em relação a outros municípios da Chapada e em relação ao que preciso como objeto de estudo. Tenho buscado respostas neste sentido na comunidade e cada vez mais tenho me certificado de onde estou, por que estou e pra que vim. Agradeço a essas pessoas pela simplicidade, pelo gesto humano de lhe dar com o outro, pela disposição a troco de somente ajudar. Sinto que minha caminhada tem sido frutífera e no fim da linha colherei bons frutos.

Obs.: Estes são alguns pontos de destaque de um projeto de pesquisa de mestrado em desenvolvimento, fragmentos de uma dissertação. A intenção aqui é somente falar a cerca do que tem sido feito na cidade de Iraquara em relação a estudos neste sentido e de certa forma repensar “nossa” cidade enquanto um veículo cognitivo, histórico, artístico e que precisa ser mais explorado.

Obrigado a todos e até a próxima.