terça-feira, 7 de maio de 2013

Professor de Arte é Artista?


Fotografia: Maíra Amaral (Colégio Municipal localizado no Vale do Capão- Palmeiras/BA)

Por Jailton Santóz

Não necessariamente. Começaremos esta discussão respondendo a pergunta em questão. Professor de Arte nem sempre é e/ou precisa ser artista. É bom que seja, mas os objetivos da arte na educação é que o profissional da área saiba conduzir e mostrar o caminho ao aluno para a experimentação criadora, não para formar artistas, mas para fazer com que o aluno vivencie o conhecer arte a partir de experiências práticas nas artes visuais, música, dança e teatro, aprecie criticamente poéticas pessoais, produções de arte feitas ao longo do tempo e conheçam cognitivamente o percurso da arte na história dentre seus movimentos, tendências e mudanças da era primitiva à contemporânea.
O conhecer arte enquanto recorte da história e da cultura deve ser guiado pelo professor. É importante que o professor tenha vivenciado práticas em arte para que sua didática seja mais flexível, seja mais rica tecnicamente e artisticamente. Quando o professor de Arte também é artista, cria-se uma referência a mais em sala de aula, na abordagem da fruição artística os alunos tendem a fazer uma associação mais próxima entre arte e produtor de arte do que na distância física que as demonstrações de obras de Da Vinci, Picasso, Duchamp causam, por exemplo. Além disso, o professor/artista consegue se familiarizar de forma mais significativa com a experiência de produção de arte e certamente não errará na receita em se tratando da utilização técnica de algum material por conta da prática em si ou mesmo em criar algum suporte, algum meio de apropriação para as criações.
Sempre que preciso criar alguma ilustração no quadro referente a alguma abordagem nas minhas práticas em sala de aula, ao criar a imagem sempre escuto o retorno dos alunos nas conversas entre si. “Olha! O professor sabe desenhar, ele é artista!”, “É claro que ele sabe desenhar, afinal ele é professor de Arte né?” Questões como esta nos certificam ainda mais de que o arte-educador precisa ter esse domínio prático, que seja pelo menos técnico. Ser professor/artista é no mínimo facilitador da aprendizagem. Essa problemática transcorreu em minha mente a partir das fragmentações de vivência prática em arte que os cursos de licenciatura da área oferecem. Posso falar especificamente da minha experiência acadêmica que deixou a desejar nesse sentido. O desenrolar das disciplinas práticas sempre foi muito rico nas oficinas de criação, porem eu senti falta de uma vivência mais quantitativa, a ponto de ter tido contato com técnicas que tive que buscar a fora em cursos de extensão durante a graduação.
Para melhor esclarecimento da nossa proposta em primeiro lugar o que é ser professor? O que é ser professor de Arte? O que é ser artista? E o que é ser professor/artista? Questões mais específicas como estas determinam com mais clareza a resposta para nosso questionamento neste texto.
Ser professor em primeiro lugar é saber lhe dar com gente. O professor além de ser um transmissor de conhecimento, precisa conhecer e saber mediar o conhecimento, saber usar estratégias para as situações adversas da sua prática. Não apenas no que diz respeito ao contato com os alunos em sala de aula, mas o contato com a comunidade escolar no seu todo.
O professor de Arte, dotado de conhecimentos pedagógicos que são universais aos licenciados das diversas áreas de formação é também um mediador que além de dominar a prática docente precisa conhecer arte em sua essência e saber transmiti-la a ponto de levar os alunos à experiência desse conhecimento tanto no que se refere às teorias da história e crítica de arte, mas também aos experimentos práticos, as vivências sensíveis de produção e fruição de arte. Ser artista envolve prioritariamente a sensibilidade, a exploração, apropriação e a poética pessoal, seja nas artes visuais, na música, na dança ou no teatro. Segundo Karl Marx, a arte existe por que o homem sente o mundo, ou seja, a educação dos sentidos que permitiu a existência da arte. Para Platão arte e o artista são imitadores da natureza, Aristóteles afirma que não, que arte não imita a natureza, mas ela é a própria natureza.
O professor/artista é um facilitador da aprendizagem em Arte. É um provocador de sensações e propositor de novas ideias. É aquele que desestrutura e desequilibra a sala de aula para sair da mesmice e vivenciar o sensível. O professor/artista não existe simplesmente para decorar a escola em tempos festivos, mas é aquele que conhece um tanto a mais, que ousa e que usa, experimenta sabendo que pode não certo, porem o final de alguma forma é sempre proveitoso. Qualidades como estas se tornam razões a mais para que o ensino de Arte no Brasil seja ministrado por professores que sejam no mínimo licenciados na área. Se o professor não artista pode se deparar com alguma dificuldade no seu percurso, mais ainda quem não tem formação adequada. Que essa cultura no Brasil deixe de existir, não apenas na disciplina de Arte, mas em todas as áreas que são ministradas por professores com formação diferente, por que os nossos alunos que são os nossos filhos, netos, sobrinhos, primos precisam de uma aprendizagem consistente e não fragmentada.
Obrigado a todos e até a próxima discussão!


Um comentário:

  1. Boa tarde Jailton Santóz!!

    Me chamo Sabrina,sou aluna do curso de Artes Visuais,da Universidade Federal do Esprito Santo,achei muito interessante seu blog,e gostaria,se possível,fazer algumas perguntas em relação ao professor/artistas,pois estou fazendo uma pesquisa.

    Deixarei meu e-mail para contato :sabrinaramosnunes@hotmail.com.

    Desde já agradeço a sua colaboração,seu blog contribuiu muito,espero que sua entrevista também contribua para minha formação...rsrsrsr.

    Abraço!!!

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