Fotografia:
Maíra Amaral (Colégio Municipal localizado no Vale do Capão- Palmeiras/BA)
Por
Jailton Santóz
Não necessariamente. Começaremos
esta discussão respondendo a pergunta em questão. Professor de Arte nem sempre
é e/ou precisa ser artista. É bom que seja, mas os objetivos da arte na
educação é que o profissional da área saiba conduzir e mostrar o caminho ao
aluno para a experimentação criadora, não para formar artistas, mas para fazer
com que o aluno vivencie o conhecer arte a partir de experiências práticas nas
artes visuais, música, dança e teatro, aprecie criticamente poéticas pessoais, produções
de arte feitas ao longo do tempo e conheçam cognitivamente o percurso da arte
na história dentre seus movimentos, tendências e mudanças da era primitiva à
contemporânea.
O conhecer arte
enquanto recorte da história e da cultura deve ser guiado pelo professor. É
importante que o professor tenha vivenciado práticas em arte para que sua
didática seja mais flexível, seja mais rica tecnicamente e artisticamente.
Quando o professor de Arte também é artista, cria-se uma referência a mais em
sala de aula, na abordagem da fruição artística os alunos tendem a fazer uma
associação mais próxima entre arte e produtor de arte do que na distância
física que as demonstrações de obras de Da Vinci, Picasso, Duchamp causam, por
exemplo. Além disso, o professor/artista consegue se familiarizar de forma mais
significativa com a experiência de produção de arte e certamente não errará na
receita em se tratando da utilização técnica de algum material por conta da
prática em si ou mesmo em criar algum suporte, algum meio de apropriação para
as criações.
Sempre que preciso
criar alguma ilustração no quadro referente a alguma abordagem nas minhas
práticas em sala de aula, ao criar a imagem sempre escuto o retorno dos alunos
nas conversas entre si. “Olha! O professor sabe desenhar, ele é artista!”, “É
claro que ele sabe desenhar, afinal ele é professor de Arte né?” Questões como
esta nos certificam ainda mais de que o arte-educador precisa ter esse domínio
prático, que seja pelo menos técnico. Ser professor/artista é no mínimo
facilitador da aprendizagem. Essa problemática transcorreu em minha mente a
partir das fragmentações de vivência prática em arte que os cursos de
licenciatura da área oferecem. Posso falar especificamente da minha experiência
acadêmica que deixou a desejar nesse sentido. O desenrolar das disciplinas
práticas sempre foi muito rico nas oficinas de criação, porem eu senti falta de
uma vivência mais quantitativa, a ponto de ter tido contato com técnicas que tive
que buscar a fora em cursos de extensão durante a graduação.
Para
melhor esclarecimento da nossa proposta em primeiro lugar o que é ser
professor? O que é ser professor de Arte? O que é ser artista? E o que é ser
professor/artista? Questões mais específicas como estas determinam com mais
clareza a resposta para nosso questionamento neste texto.
Ser
professor em primeiro lugar é saber lhe dar com gente. O professor além de ser
um transmissor de conhecimento, precisa conhecer e saber mediar o conhecimento,
saber usar estratégias para as situações adversas da sua prática. Não apenas no
que diz respeito ao contato com os alunos em sala de aula, mas o contato com a
comunidade escolar no seu todo.
O
professor de Arte, dotado de conhecimentos pedagógicos que são universais aos
licenciados das diversas áreas de formação é também um mediador que além de dominar
a prática docente precisa conhecer arte em sua essência e saber transmiti-la a
ponto de levar os alunos à experiência desse conhecimento tanto no que se
refere às teorias da história e crítica de arte, mas também aos experimentos
práticos, as vivências sensíveis de produção e fruição de arte. Ser artista
envolve prioritariamente a sensibilidade, a exploração, apropriação e a poética
pessoal, seja nas artes visuais, na música, na dança ou no teatro. Segundo Karl
Marx, a arte existe por que o homem sente o mundo, ou seja, a educação dos
sentidos que permitiu a existência da arte. Para Platão arte e o artista são
imitadores da natureza, Aristóteles afirma que não, que arte não imita a
natureza, mas ela é a própria natureza.
O
professor/artista é um facilitador da aprendizagem em Arte. É um provocador de
sensações e propositor de novas ideias. É aquele que desestrutura e
desequilibra a sala de aula para sair da mesmice e vivenciar o sensível. O
professor/artista não existe simplesmente para decorar a escola em tempos
festivos, mas é aquele que conhece um tanto a mais, que ousa e que usa, experimenta
sabendo que pode não certo, porem o final de alguma forma é sempre proveitoso.
Qualidades como estas se tornam razões a mais para que o ensino de Arte no
Brasil seja ministrado por professores que sejam no mínimo licenciados na área.
Se o professor não artista pode se deparar com alguma dificuldade no seu
percurso, mais ainda quem não tem formação adequada. Que essa cultura no Brasil
deixe de existir, não apenas na disciplina de Arte, mas em todas as áreas que
são ministradas por professores com formação diferente, por que os nossos
alunos que são os nossos filhos, netos, sobrinhos, primos precisam de uma
aprendizagem consistente e não fragmentada.
Obrigado a todos e até a próxima
discussão!