Técnica: Aquarela sobre canson. Sem título. Autor: Jailton Santóz
Por Jailton Santóz
“O artista visual contemporâneo é um propositor teórico que se apropria da
prática da imagem para vomitar sua essência poética.”
Um dia na escola conversando
com um professor de História falávamos sobre definições de arte contemporânea a
partir do que é mais explícito em uma produção de arte visual na atualidade. Ele
me falava a cerca de suas dificuldades de interpretação do que na maioria das
vezes é implícito na obra por ser uma arte conceitual, cerebral em que a
proposta expressiva não é o objeto pronto em si mas está no objeto pronto afim
do despertar do espectador às sensações, relações e conceitos.
Indo adiante no
debate com o colega de profissão percebi que suas indagações se direcionavam a
uma ideia de arte enquanto ideal de beleza, enquanto um padrão estético
estereotipado como belo a partir do que lhe parecia agradável aos olhos. Este
fato ainda é grande maioria no Brasil. O conhecer arte em sua essência ainda me
parece estar longe da realidade intelectual das pessoas, seja por ingonrância
ou mesmo pelo desmerecimento ou desprestígio do cargo que a arte ocupa neste
país.
Num outro dia
conversando com um aluno do Ensino Médio falávamos sobre a seleção do AVE –
Artes Visuais Estudantis (projeto do Governo do Estado da Bahia / Secretaria de
Educação que seleciona e premia obras de artes visuais de alunos) e ele me
passava suas ideias de criação a serem
projetadas numa tela e disse: “Professor, eu quero fazer uma paisagem,
algo que seja bem bonito...” Concordando com seu desejo eu respondi que iriamos
iniciar as oficinas e que neste tempo ele amadurecesse sua proposta e logo
começaríamos o processo, porém o universo das artes visuais não se limita em
pintura em tela, pois existe uma gama de possibilidades / materiais que podem
ser explorados. Pintar em tela é incrível, é mágico, de forma alguma
inferiorizo esta técnica, porem existem possibilidades de criação tão
interessantes quanto esta. Aproveitei a situação para falar um pouco de arte
contemporânea e de maneira bem sucinta levantei algumas características
imateriais / poéticas da arte pós-moderna. Ele observando seriamente e
enrrugando as sobrancelhas me pareceu descontente no início, mas logo começou a
interagir e concordar com o que eu explanava. A intensão era justamente esta, o
desequilíbrio para o conhecimento.
Que fique bem
claro que a arte contemporânea não interfere ou influencia na criação de ninguem,
ela vem somar, vem criar subsídios, trazer novas e diversas formas de criação. Ela
confirma ainda mais que arte não é uma simples produção humana a meros fins decorativos, mas é também
cognição.
Na hora da decorar da sala de casa por que a
maioria das pessoas ainda hoje preferem as pinturas que retratam flores, vasos,
pássaros, paisagens...? Sem querer desmerecer qualquer tipo/tendência artesanal
ou artística mas, por que não uma instalação feita de água, terra e fibra?
Porquê o ideal de beleza ainda se restringe ao que é predominantemente “bonitinho”,
porquê as pessoas enfeitam suas casas imaginando a reação de quem chega, o
que vão achar da aparência, do que é
comum. O comum não acresce em nada! O comum ajuda a manter o hoje, o agora
impedindo o amanhã e o depois seja na arte ou em qualquer campo.
A arte
contemporânea vem causar o desequilíbrio, a desestruturação, a abstração da
visão de mundo das pessoas. Ao mesmo tempo em que ela gera discussões dos mais
diversos temas, nos trás também um “novo” conceito de arte, uma nova significação
do que é belo, bom e agradável.