Fotografias: Jailton Santóz (aluno do
1º Ano F. Vespertino/ oficina do AVE no CEMTL)
Por Jailton Santóz
Nesta semana será realizada a exposição de obras do AVE – Artes Visuais Estudantis no Centro
Educacional Manoel Teixeira Leite em Iraquara-BA. Este projeto acontece desde
2008 nas escolas estaduais de toda a Bahia. O projeto da Secretaria de Educação
do Estado da Bahia em parceria com o Poder Público tem por objetivo gerar
oportunidades para os alunos do Ensino Fundamental, Médio e EJA- Educação de
Jovens e Adultos de todos os turnos, possam além de mostrar sua criatividade a
partir de uma obra de arte visual, também concorrer a prêmios de primeiro,
segundo e terceiro lugar, sendo que o primeiro lugar além do prêmio da escola
concorrerá também com as demais escolas das DIRECs – Diretorias Regionais de
Educação na segunda fase do projeto e se vencer novamente será submetido a uma
seleção estadual na cidade de Salvador por meio de uma nova exposição para o
prêmio final. Apesar de não ser característica da disciplina de Arte,
selecionar quem é melhor, mergulhei com os alunos no projeto buscando o olhar
para a experimentação poética e singular de cada um deles.
Estamos desenvolvendo na escola as oficinas de criação de
desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e instalações com materiais
específicos e recicláveis em uma das salas que improvisamos por que
infelizmente ainda não há um espaço reservado e propício para este tipo de
trabalho no colégio. Por uma medida necessária a direção da escola se
sensibilizou a partir do que já foi desenvolvido nas oficinas em relação às
produções dos alunos e na prática percebeu que a existência de um espaço para
criações em arte realmente fará uma diferença grande no que tange ao
desenvolvimento sensível, estético e cultural dos alunos, não apenas no período
de projetos, mas durante todo o processo de ensino-aprendizagem na parte
prática da disciplina de Arte, sendo desta forma sem fins seletivos e sim
experimentais.
Estou muito feliz, não apenas pela sala de arte que será
organizada, mas principalmente pelo bom desempenho dos alunos ao se
comprometerem até nos turnos em que não estudam na escola para concluir seus
trabalhos devido ao pouco tempo que temos para montar esta mostra. Só nós sabemos a dificuldade que foi para
conseguir comprar os materiais que não tinham na cidade, coletar materiais
recicláveis e pôr ordem na casa para que as coisas caminhassem bem, desde o esboçamento
da obra até a limpeza dos pinceis, godês e paletas de cada turno.
Sou totalmente favorável ao incentivo à criação de arte nas
escolas, ONGs, museus, espaços culturais ou em qual quer que seja o lugar. Em
momentos como esse, me realizo como profissional e sempre sinto uma energia
muito positiva no processo de criação com os alunos, porem sou contra a seleção
de arte/ escolha de qual o “melhor” trabalho. Penso que a arte deve existir por
um meio sensível, por uma ideologia singular de cada pessoa ao buscar ferramentas
visuais, literárias ou musicais como um veículo expressivo, comunicativo e
apreciativo. Assim como as pinturas rupestres da Pré-História que não
precisaram de seleção para existir enquanto arte. Vejo as produções artísticas
como elementos únicos e insubstituíveis que não precisam de aprovações do olhar
humano para se tornarem arte e ter a sua beleza, seja estética ou conceitual, a
final o ideal de beldade está no gosto de quem vê de uma maneira muito
particular.
Não estou fazendo uma crítica ao AVE especialmente, me refiro
a seleções, salões e editais de artes visuais em geral... Que em sua maioria buscam
propostas engessadas de arte contemporânea em suas escolhas, limitando o
universo sensível dos artistas a uma ideia de arte imaterial.
Gosto de arte contemporânea, meus trabalhos de arte em sua
maioria se baseiam numa visão mais conceitual e cerebral do que estética. Não
desmereço de forma alguma quem se apropria desta tendência em suas obras, muito
pelo contrário quero valorizar o contemporâneo e tudo o que o homem desenvolveu
em arte até hoje e não somente dar ênfase ao que é atual e deixar para trás a
raiz do que temos no cenário artístico grego, barroco, renascentista, realista,
modernista... Penso numa produção de arte com uma riqueza cumulativa e não
apenas temporal e tendenciosa.
Não havia escrito nada antes sobre o AVE ou mesmo sobre
seleções de artes visuais por que sentia que se tratava de algo muito delicado
e seria necessário um embasamento coerente para falar sobre o assunto. Desta
vez ousei arriscar e falar um pouco sobre o que penso, e é claro que sempre
amadurecemos outras ideias, outras formas de ver e pensar. No entanto vejo que
minhas palavras neste texto busca uma reflexão construtiva para que a produção
de arte não se perca influenciadamente na tendência atual e busque ser mais
livre ao desejo de cada artista em suas criações.
Obrigado
pela leitura e até a próxima discussão!