Por Jailton Santóz
Este texto tem
por inspiração a reflexão da linguagem plástico-visual-signográfica de Rubem
Valentim em seu “Manifesto Ainda que Tardio”, artigo no qual revela sua
identidade artística por meio de uma estética fundamentada de códigos e de signos
expressivos da cultura afro-brasileira. Nele,
eu, Jailton Santóz ganhei inspiração para falar do meu trabalho como artista, me
apropriando da linguagem instrumentalizada de Valentim, desenvolvendo um relato
de experiências e maturação artística em minha poética visual que tem como
estrutura conceitual e estética os fundamentos do olhar para as fragmentações
do corpo feminino, dissociado especificamente de condições afro-brasileiras, porem
ao mesmo tempo interligado a um gênero, diversos signos e as diversas etnias.
Minha poética está
diretamente inerente à sexualidade. Sexualidade pelo prazer e pela estética
estimuladora da movimentação do olhar sensual por meio de partes do corpo da
mulher. A alusão ao sexo leva em consideração às representações destacadas na
obra em paralelo à sensibilidade de cada espectador que pode vir ao contexto da
sensualidade, consequente do contínuo e matemático uso de curvas, ondulações e
formas. Quando me refiro a estas identificações etnográficas e etnológicas
exponho a minha visão enquanto espectador de minha própria obra, mas consigo
subsídios a mais quando o olhar é do público. Esta experiência já aconteceu
algumas vezes nas exposições que participei e realmente a realidade é abstrata
por se tratar de contribuições tão pessoais, de olhares subjetivos a cerca dos
elementos formais e das mensagens cognitivas expressadas nas obras.
As pinturas,
relevos e esculturas relacionadas ao meu trabalho plástico/visual não nasceram
prontas, assim como todo artista visual que se aprimora com o tempo, eu passei
cerca de onze anos de trabalho aleatório em diversas técnicas e apropriações
para chegar a um consenso estético e filosófico da minha proposta expressiva,
apesar de que desde a infância representar o nu feminino sempre foi uma prática
de prazer para mim. Morava em uma das ruas da cidade de Salvador na Bahia em
que a ladeira desta rua ganhava sempre uma nova aparência até o momento em que
a chuva chegava e apagava os desenhos a giz feitos por mim. Pessoas passavam e
quando não paravam para olhar, caminhavam olhando, os desenhos de “mulher nua”
feitos por uma criança que somente depois de ingressar na graduação, na fase
adulta, reconhece que o gozo em arte está nas possibilidades de expressar o que
sente e pensa. Concluindo que fazer arte é a satisfação de um desejo que
resulta em fazer, ver e prazer.
As descrições
etnográficas das minhas obras se destacam pelos contrastes pictóricos do preto
e branco e suas derivações cromáticas, pelas curvas acentuadas presentes em
todas as obras, pelo volume causado pelos altos relevos produzidos, pelo
movimento circundante aleatório que não expressa início, nem meio e nem fim,
pelo número matemático quantitativo de representações ou unicidade representada
em seu todo. Minha obra é sempre o todo
e sempre partes do todo.
Os principais
conceitos etnológicos do meu trabalho refere-se a um gênero: feminino, a signos
e a etnias. A representação feminina faz alusão ao meu vínculo maternal
afetivo, eu que tive uma mãe soberana, os signos expressados pela coletividade
expressam uma dor, a dor da ausência e da solidão, o movimento nas obras é como
um relógio que marca o tempo, mas não diz quando este tempo começou e quando
irá terminar, o uso do branco (cor e não pele) ou preto (ausência de cor e não
pele) visa uma representação étnica não diretiva, mas potencializada para
possibilitar o olhar adverso para representações humanas de forma universal, sem
dar qualidades e identificações, o objetivo é esclarecer e/ou confundir.
REFERÊNCIA
VALENTIM, Rubem. Manifesto Ainda Que Tardio. Salvador, p.
1-2, jan. 1976.