Fotografia: Jailton Santoz
Por
Jailton Santoz
“Se arte não fosse
importante, não resistiria desde a pré-história às tentativas de menosprezo.”
Ana Mae Barbosa
Neste mês de junho, farei
oito meses que passei a morar em Iraquara- BA, eu que sou soteropolitano, tenho
sido alvo de questionamentos de alguns alunos e professores, por qual razão eu
teria saído da “Grande Salvador” para morar nesta cidade do interior... O meu
feed back foi bem direto e objetivo, tenho explicado essa razão pela paixão por
arte rupestre, que desde o primeiro semestre da faculdade, na disciplina de
História da Arte 1 – Professora Marta Guedes, no curso de Licenciatura em Artes
Visuais na UCSal – Universidade Católica do Salvador, pude conhecer um pouco mais sobre essa
herança ancestral que de forma ofegante me passa visualmente o poder para
exploração imagética e poética, ainda que tenha sido há muitos anos objeto de
estudo dos antropólogos, arqueólogos e historiadores, ainda que já exista sob
diversos pontos de vista de diversos autores a vasta explanação sobre o assunto
o meu desejo acompanhado de anseio é fazer um levantamento iconográfico desses registros para um paralelo entre pinturas
rupestres e a história da arte brasileira, fazer um mapeamento de alguns sítios
arqueológicos em Iraquara para a construção de um projeto de pesquisa para o
mestrado em História da Arte pela UFBA- Universidade Federal da Bahia em
Salvador no período do Estágio Probatório.
No ano de 2010, surgiu a
oportunidade de fazer o concurso público do Estado da Bahia, estando no
penúltimo semestre da faculdade fiz o concurso, passei em primeiro lugar e um
mês depois da minha formatura fui convocado e logo depois nomeado para a área
que desde os 12 anos de idade sonhava em ser “professor de arte”, nuca pensei
em ser outra coisa. Chegando a Iraquara sem conhecer nada e ninguém no dia 21
de outubro de 2011, uma sexta feira às 10h00min, tomei posse e fui me acomodando
na cidade que de forma maravilhosa me recebeu muito bem, levarei sempre comigo
a lembrança dessa cidade e os amigos que aqui conquistei. Na semana seguinte
comecei minha jornada de trabalho e fui conhecendo os gestores, professores,
funcionários e alunos. Ao longo das aulas fui percebendo a carente exploração
da disciplina de arte de forma a valorizar suas premissas básicas, tempo em que
(segundo os gestores) nunca houve professor de arte com formação adequada para
o cargo, e assim foram juntando as peças em minha mente, fui conhecendo o
território do CEMTL – Centro Educacional Manoel Teixeira Leite, conhecendo
também a aptidão pouco explorada dos alunos, suas poéticas pessoais e iniciei
meu trabalho com orgulho, dedicação e em primeiro lugar: Paixão, este é o
segredo do sucesso de qualquer profissão, a realização pessoal precisa sempre
vir primeiro.
Depois de ter desenvolvido
trabalhos práticos, teóricos e experimentais com os alunos, tenho já uma ideia
significativa em relação às diferenças culturais / regionais dos educandos
iraquarenses do CEMTL e tenho tido retornos bem positivos tratando-se de
mudanças e inovações no ensino de arte nesta instituição.
Há poucos dias um aluno do
primeiro ano do Ensino Médio, ressaltou: “Professor, Artes nunca foi tão difícil,
em se tratando de ter conteúdos, seminários e provas...” A princípio eu poderia
ter ideias precipitadas e entender que ele não estaria gostando e nem sabendo
lhe dar com a disciplina, já que segundo ele nos outros anos em Arte
trabalhava-se apenas a prática da produção artística sem a correlação com a
leitura imagética e a história da arte. Essa situação pra mim foi bem curiosa,
a ponto de abrir mais os olhos e fazer um acompanhamento maior deste aluno no
seu processo de aprendizagem. No final da unidade este aluno foi um dos
melhores, quantitativamente e qualitativamente, obteve uma das maiores notas da
sala e me fez concluir que seu questionamento foi apenas uma mudança de visão
sobre Arte. Eu fiquei muito satisfeito e feliz por que sinto a necessidade de
fazer diferença e mostrar o verdadeiro valor da disciplina, desmerecida muitas
vezes pela própria escola e pelos próprios professores da área que nem sempre
tem mostrado o porquê estudar arte, ou qual a importância da sua existência. Se
o professor não conhecer esse valor e não souber passar para os alunos o
fundamento e objetivo da educação cultural, os alunos jamais saberão o que é
cultura, o que é conhecer arte e dessa forma as mudanças serão apenas temporal
e as qualidades serão as mesmas.
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